Por Lau Siqueira
Esperar um voo em qualquer aeroporto não é tarefa divertida. As vitrines são as mesmas. As poucas livrarias exibem biografias e autoajuda. O ambiente é frio. Semana passada, em Guarulhos, entretanto, estanquei meu olhar num livro de Mario Vargas Lhosa. Admiro o peruano, autor de “A guerra do fim do mundo”. Então resolvi comprar “A civilização do espetáculo – Uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura”. O tema não é novidade. Edgar Morin e, muito especialmente Guy Debord já abordaram o assunto. Um tema, aliás, bem instigante e capaz de suscitar muitas reflexões. Os males da espetacularização midiática são por demais conhecidos. A notícia de fácil consumo substituiu o jornalismo crítico, reflexito, investigativo e isso tem um efeito devastador na cultura. É mais um fruto da globalização.
Publicado no Jornal A União, na última sexta.
Esperar um voo em qualquer aeroporto não é tarefa divertida. As vitrines são as mesmas. As poucas livrarias exibem biografias e autoajuda. O ambiente é frio. Semana passada, em Guarulhos, entretanto, estanquei meu olhar num livro de Mario Vargas Lhosa. Admiro o peruano, autor de “A guerra do fim do mundo”. Então resolvi comprar “A civilização do espetáculo – Uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura”. O tema não é novidade. Edgar Morin e, muito especialmente Guy Debord já abordaram o assunto. Um tema, aliás, bem instigante e capaz de suscitar muitas reflexões. Os males da espetacularização midiática são por demais conhecidos. A notícia de fácil consumo substituiu o jornalismo crítico, reflexito, investigativo e isso tem um efeito devastador na cultura. É mais um fruto da globalização.
Uma frase na quarta
capa do livro, todavia, é uma provocação: “A
cultura, no sentido tradicionalmente dado a este vocábulo, está prestes a
desaparecer”. Ele se refere à banalização das artes e da literatura. Algo
que concordo discordando. O que ocorreu foi a retirada dos intelectuais e dos artistas
das pautas de visibilidade. Os cadernos de cultura, majoritariamente, destacam
a vulgaridade dos programas televisivos e a banalidade das colunas sociais. Mas,
desprezar a qualidade da arte e da intelectualidade contemporânea é puro
despeito. A chamada “alta cultura”, modismo dos salões aristocráticos, é que está
morta. É um erro crasso afirmar que a cultura está prestes a desaparecer.
Estamos sendo engolidos antropologicamente pela midialização, pela cultura do
entretenimento. Todavia a arte é resistência em qualquer tempo. Não vamos
esquecer que Van Gogh teve sua obra desprezada e ele não foi o único.
Desacreditar pensadores e artistas contemporâneos significa pensar fora do tempo da arte. A elevação da cultura não é propriedade de uma elite erudita ou de uma época determinada. É uma conexão da raça humana. Transborda junto com a história e nela se desloca. Em todas as épocas tivemos altos e baixos. Referendar a espetacularização como recorte do fim da história é frustração pessoal ou delírio neoliberal. Jamais uma realidade que não possa ser contestada e transformada. Depois de todas as vanguardas artísticas do final do século XIX e início do século XX, a história da arte e do pensamento não se afirmam mais pela novidade, mas pela densidade. A ideia de espetaculização em Vargas Lhosa me parece equivocada, especialmente quando compara Verdi com Rolling Stones. Como se o fato de existir o rock impedisse a evolução da música clássica. Entretanto, o livro merece outras abordagens. Faremos isso nas próximas colunas.
Desacreditar pensadores e artistas contemporâneos significa pensar fora do tempo da arte. A elevação da cultura não é propriedade de uma elite erudita ou de uma época determinada. É uma conexão da raça humana. Transborda junto com a história e nela se desloca. Em todas as épocas tivemos altos e baixos. Referendar a espetacularização como recorte do fim da história é frustração pessoal ou delírio neoliberal. Jamais uma realidade que não possa ser contestada e transformada. Depois de todas as vanguardas artísticas do final do século XIX e início do século XX, a história da arte e do pensamento não se afirmam mais pela novidade, mas pela densidade. A ideia de espetaculização em Vargas Lhosa me parece equivocada, especialmente quando compara Verdi com Rolling Stones. Como se o fato de existir o rock impedisse a evolução da música clássica. Entretanto, o livro merece outras abordagens. Faremos isso nas próximas colunas.