por Lau Siqueira
O que nos interessa no desbravamento dos conceitos de forma e conteúdo é
a diminuição das lonjuras. A persistência de um olhar desfragmentado no
discurso silencioso da arte. Foi nessa busca, percorrendo versos pelos caminhos
da Idade Mídia, que encontrei o lirismo das cores e das formas na obra de Ana
Luisa Kaminski - uma artista gaúcha, de Erechim, que vive em Florianópolis. A delicadeza, a
sensualidade, a espiritualidade feminina, a perplexidade de uma predominância
azul aberta às tonalidades de cada cor. Ana Kaminski faz da sua arte um ato de
serenidade, de ousadia, de liberdade, de paixão, de amor e de permanente
inquietação. Elabora através das suas imagens, um discurso para as alcateias e
passaredos da própria arte. Até que se cumpra o que dizia Mondrian: “a arte
desaparecerá na medida que a vida adquirir mais equilíbrio.” Utopia que
cabe nas cores e na densidade temática que
obra de Ana Kaminski revela. Uma poética
de imagens atentas aos desequilíbrios do mundo e buscando recuperá-los.
O auto-retrato é sempre um bom caminho para compreendermos a espinha dorsal
de uma produção artística. O encontro ético e estético na distância entre o
criador e a criação. Rembrandt foi o artista que mais pintou auto-retratos. Foram
cerca de 100 obras neste formato. Mas, de certa forma, toda arte é autobiográfica.
Revela com maior ou menor intensidade, a trajetória e talvez a consistência mais
plena de uma vida. O artista por sua vez é um ser que transcende a partir dos
seus acúmulos, das suas levezas, dos seus afetos e das suas jornadas
impactantes. Todas as suas asas e principalmente todas as suas percepções sobre
o mundo afinam seus instrumentos. Nossa leitura dos quadros de Ana Kaminski se
dá nesta perspectiva. Observando as técnicas utilizadas pela artista lembramos
o saudoso poeta concreto Décio Pignatari que dizia ser a poesia um segmento das
artes plásticas. Ana Kaminski nos mostra que o inverso também procede. Talvez
revelando os antagonismos apontados por Mondrian e os caminhos para a sua
inevitável superação. Utopicamente a artista segue em frente, existindo além
dos limites. Construindo-se pelos rastros de encantamento, inquietação ou mesmo
repulsa que sua verdade artística possa provocar. Ana Kaminski busca suas
utopias a partir de uma inegociável transversalidade. Tudo isso num tempo em
que, permanentemente, o futuro se encontra com o passado. Todavia, com a suave
condução dos rumos apontados pela energia que une os pincéis às suas mãos e às suas
conexões sensoriais e lúdicas. É poesia o que brota nas cores de Ana Kaminski!
Num profundo espelho de onde a artista extrai da sua existência, de forma sequencial
e filosoficamente bem estruturada. Sua arte é uma permanente fotografia da sua alma fêmea.
Segundo Antônio Callado, “o principal problema da arte do nosso tempo, em
que estala por todas as juntas a armadura do capitalismo, é criar uma ponte
entre o povo e o artista – e por povo entenda-se todo mundo, todos os
não-artistas.” Essa ponte, Ana Kaminski encontra de forma consciente e consistente
nas redes sociais. Primeiro no Orkut e depois no Facebook ou mesmo no blog
Âncoras e Asas (www.ancoraseasas.blogspot.com). O fato é que com estes
instrumentos a artista vai encurtando a distância entre a sua obra e um público
cada vez mais afinado com seus traços. O que transborda em Ana Luisa Kaminski é
a plenitude da artista diante do seu universo criativo. Ela revela em cada
pintura um firme propósito estético e uma permanente busca. Nada melhor para
representar o que a vida tem de mais intenso, de mais verdadeiro.
Texto escrito para a minha coluna no portal repórterPB (www.reporterpb.com.br)
Texto escrito para a minha coluna no portal repórterPB (www.reporterpb.com.br)
2 comentários:
Bravo!
Salve Lu Kaminsky e Lau com suas maravilhosas expressões da arte.
Maravilhoso Mundo Novo que faz artistas assim. Salve Frau Kaminsky e Lau Siqueira.
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