Por Lau Siqueira
Apesar do crescimento das ações direcionadas ao livro,
leitura e bibliotecas nos últimos anos, o Brasil ainda possui um débito enorme na formação de leitores. O
impacto pode ser observado na qualidade do ensino. Principalmente quanto ao “analfabetismo
funcional” que frequenta algumas universidades e expõe a necessidade urgente de
mais investimentos no setor. O fato é que não temos uma tradição de bibliotecas
em nosso país. Tanto que João Pessoa, capital da Paraíba, ainda não possui uma
biblioteca pública municipal. Pior que isso: não possui uma demanda. A
população não pauta a necessidade desse equipamento. As bibliotecas deveriam
ser o principal centro de formação cidadã. Mas, não é isso que se vê. Algumas situações,
inclusive, revelam a gravidade do problema. A biblioteca de Malta, no Sertão da
Paraíba, por exemplo, virou banheiro público. Outras tantas não passam de
depósitos de livros. A mais importante Biblioteca da Paraíba, a Juarez Gama, se
tornou um local específico para pessoas que estudam para concurso. Todavia, se
esta é sua maior demanda, certamente, não pode ser sua única função.
O distanciamento entre a maioria das bibliotecas e o
público leitor é alguma coisa espantosa e é muito fácil explicar. Afinal, as bibliotecas
deveriam existir a partir de uma demanda: a popularização do hábito da leitura.
Deveriam surgir a partir da ampliação das necessidades do público leitor. Algo
que poderia ser natural em um país que é um dos maiores fabricantes e
compradores de livros do mundo. Essa deficiência na formação do leitor,
especialmente do leitor lúdico é, provavelmente, o maior abismo entre as
bibliotecas e as escolas públicas. Sejam elas bibliotecas públicas, escolares
ou comunitárias. Há um sentimento patrimonialista sobre o livro. Mesmo que, em
geral, todo livro acabe relegado após
ser lido. Há um inexplicável sentimento de posse sobre o objeto quando o que
importa é o conteúdo.
Mesmo assim é possível perceber que estamos
caminhando. Em algumas escolas as políticas de incentivo à leitura já são uma
realidade. Não é por acaso que essas são as que possuem o IDEB mais elevado. As
conferências de cultura, cada vez mais, se deparam com as demandas do livro e da
leitura. Militantes apaixonados no país inteiro nos fazem acreditar que estamos
vivendo momentos transformadores. Mas se iremos lidar com isso dentro de um
sistema, precisamos entender o que as aranhas já sabem. Um sistema é uma teia,
ligando e religando circunstâncias num objetivo que é único: alimentar a
cidadania através da mais ajustada ponte de acesso ao único meio de combater as
desigualdades: a democratização do conhecimento.
COLUNA DO JORNAL A UNIÃO - para publicação em 01/08/2014,
COLUNA DO JORNAL A UNIÃO - para publicação em 01/08/2014,
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