Por Lau Siqueira
Quando o show de Criolo
foi anunciado na programação de reabertura do Espaço Cultural da Paraíba, não
faltou quem desdenhasse. “Ninguém conhece”, diziam alguns. “Vai ser um fiasco”,
diziam os mais exaltados. Mas, esses mesmos críticos, quando viram aquela
multidão alegre, na maior paz, curtindo o show, se renderam. Compreenderam que
existe uma nova ordem fora da ordem. Em 2006, quando a FUNJOPE lançou em Mangabeira o projeto Estação
Nordeste, também houve quem desdenhasse. Afinal, eram 6 bandas do próprio
bairro. A crítica local, no entanto, reconheceu o sucesso do empreendimento
devido à multidão que se aglomerava em frente ao Mercado de Mangabeira. No palco
bandas do bairro, como Mobiê, Realidade Crua e uma multidão cantando as músicas
do SDS.
É certo que não há
reconhecimento dessa resistência permanente. Mas, ela existe. Não foi diferente
a história de Augusto dos Anjos. Um poeta que desafiou as possibilidades. Primeiro
da linguagem. Depois, da província. Ainda que os traçados locais não fossem os mais
favoráveis. Também o Hip-Hop brasileiro evoluiu e não esperou pela indústria
para criar seus próprios fenômenos. Em todas as suas linguagens: no RAP, no
grafite, na dança de rua e na discotecagem, naturalmente, foram brotando
fenômenos. No grafite, por exemplo, temos nomes como Shiko e Giga Brown.
Artistas que estão impondo pela arte os sabores das quebradas. Shiko,
inclusive, já se destacando nacional e internacionalmente. Alex, da Nação
Hip-Hop, de Campina Grande, demonstra expressividade na força da palavra.
Afronordestinas deixou sua marca em importantes festivais brasileiros. Dumato e
Camila Rocha, SH, TioDall e outros
tantos vão se firmando numa cena que, cada vez mais, busca a profissionalização
e firma-se no discurso dos direitos humanos e sociais.
Na dança de rua, o nome de Vant já é um clássico. Na
discotecagem, a incrível DJ kilt vai brilhando entre os marmanjos. Mas, em
conversas com o mano Pablo Scobá descobri que o Hip-Hop, hoje, trabalha ainda com
um quinto elemento: o conhecimento. Nascido da exclusão social e da resistência
política, o Hip-Hop já sofreu todo tipo de preconceito. Seja por abarcar uma
maioria pobre e negra. Seja por trabalhar a estética da realidade cotidiana.
Mas, foi a partir desses desfavorecimentos contemporâneos, da exclusão e da
fratura exposta da violência da burguesia brasileira que eles emergiram e dizem
a todo instante que estão nas ruas, mas são capazes de dominar os melhores
palcos e galerias. Essa onda há muito já bateu na praia. Quem não quiser se
afogar, que pule sete vezes. (O artigo de hoje é dedicado ao grande mestre do
Hip-Hop, Cassiano Pedra)
artigo para minha coluna do Jornal A União da próxima sexta.
artigo para minha coluna do Jornal A União da próxima sexta.
2 comentários:
Salve
Lau o que dizer quando já se disse tudo só que continue nos iluminando
com a suas palavras e poesias um grande abraço da familia hip-hop.
PARABÉNS GRANDE MESTRE LAU SIQUEIRA POR ESTAS PALAVRAS VERDADEIRAS E POR ESTA VISÃO PERFEITA E REALISTA DA CULTURA HIP HOP NA PARAÍBA.
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