terça-feira, 23 de dezembro de 2014

DE QUEM É A CULPA?

Por Lau Siqueira


A notícia sobre o assassinato do ator e diretor de teatro Marcos Pinto veio na última terça-feira, em pleno Café em Verso e Prosa. A atriz e amiga Suzy Lopes revelou o triste fato. Pessoa muito querida no meio artístico e um dos profissionais mais dedicados e competentes que já conheci. Marquinhos não deixava espaço para falhas. Suas produções eram muito bem cuidadas. Gostava de ver a forma como se comportava. Era exigente e focado. Fora do trabalho, uma pessoa muito descontraída e carinhosa. A notícia da sua morte chegou fervendo nos meios culturais. A dor se mistura com a revolta. Basicamente nem é revolta contra o assassino. Um pobre diabo que se perdeu do destino. A revolta é contra a banalização da vida que a homofobia revela mesmo nas piadas consideradas “inocentes” e que de inocentes não tem nada.

Nossa sociedade homofóbica, machista e racista contabiliza mortes e mais mortes. Todavia parece que, finalmente, começa a acordar e criminalizar atitudes e ações discriminatórias. Mas, ainda é muito pouco. A impunidade é enorme. A homofobia transborda em programas de grande audiência e isso vai formatando um sentimento perverso em algumas pessoas. É como se assassinar gays, lésbicas, transexuais não fosse gerar culpa. Porque também as igrejas se mostram homofóbicas. Mesmo com tantos padres e pastores de tendência homoafetiva. A mídia escancara e banaliza os fatores humanos fora dos padrões que julga e impõe como normais. Isso tudo faz com que um ser qualquer, sombrio, sem amor, movido pelos sentimentos mais sórdidos, possa a vitimar pessoas decentes e dignas como o ator e diretor Marcos Pinto.


A comunidade artística da Paraíba nem bem se recuperou ainda do crime que tirou do nosso convívio o Palhaço Pirulito (Ismar). Também uma pessoa querida, artista competente e que, tal como Marquinhos, ainda faz uma falta enorme não apenas aos seus amigos e  familiares. Mas aos palcos da Paraíba. O assombroso disso tudo é que a morte por homofobia foi um dos temas abordados no Sarau da última terça, no Empório Café. Ismar foi lembrado e no final foi revelada publicamente mais esta má notícia. Marquinhos era assíduo no Café em Verso e Prosa. Nas redes sociais a tristeza com mais esta brutalidade contra um ser humano tão ímpar, tomou conta da Paraíba. Na verdade, sabemos que a revolta já não basta. O assassino precisa ser preso. Mas, sobretudo, homofobia precisa ser contida na mídia e na sociedade. A afetividade é uma opção, um direito humano. Não pode ser banalizada por uma sociedade que esconde suas crueldades no silêncio mais perverso. Marquinhos fará muita falta. Nos palcos e na vida.


Publicado no Jornal A União.

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