“Nada envelhece tão depressa, quanto a novidade.”
(José Paulo Paes)
(José Paulo Paes)
Neste livro, o poeta Quelino Sousa – já conhecido nos meios literários da antiga Cidade das Acácias - ingressou num universo muito expressivo da história da poesia universal. Experimenta seus poemas, exclusivamente, em sonetos e haicais. Duas formas fixas do fazer poético. Entretanto ambas com variações infinitas. Entre os extremos, cabe tudo ou quase tudo. Aliás, hai = brincadeira, gracejo, kai = harmonia, realização. Na sua origem, talvez, uma quase fotografia. O haicai, na verdade, é um denso objeto do olhar. Já o soneto, desde sua origem até esses tempos difusos, já se estendeu até mesmo no tapete tatuado da Poesia Visual. Especialmente quando o poeta potiguar Avelino de Araújo criou o famoso Soneto do Apartheid. Uma disposição visual com os quartetos e tercetos representados por pedaços de arames farpados. Dispostos, inventivamente, na forma do soneto e denunciando o regime racista da África do Sul nos anos 70. Pois bem: é neste açude de múltiplas linguagens que o Quelino solta suas manadas.
A poesia não tem limites. Quelino
sabe disso. Aliás, parece que a poesia vive de infinitos, de descobertas, de
encontros, desencontros e reencontros. Pulsando nas palavras com a sinceridade
com a qual a vida nos lê. Desta forma, a ironia, o amor, a sensualidade até os
limites da pornografia, fazem parte do universo poético de Quelino, do seu tear
pelas possibilidades de um oriente vestindo jeans e caminhando nas areias de Cabo Branco.
Por decisão do poeta, os haicais recebem títulos e se aproximam também das
ideias do poeta baiano Goulart Gomes em torno do Poetrix. Enfim, na terra de
grandes haicaístas como Saulo Mendonça e Fransued do Vale, Quelino deixa sua
escopeta apontada para a Lua, esperando o estampido do Sol nascente.
Nos sonetos o poeta
praticamente não muda a variação temática. Continua cantando o amor e a
sensualidade. Mas, detalhe: tematiza, também, a própria literatura. As leituras
que são experimentadas no cotidiano e
cabem perfeitamente na sua metalúrgica de versos. Enfim, não é de hoje: o poeta
quando acerta nas nuvens, se mostra errante de si mesmo. Desenha suas fissuras
e expõe suas metades induzidas num limite que é só seu. Num experimentar sem
ressentimentos nem frações diluídas nesse caldeirão onde somos todos traços da
mesma paisagem, caminhando para muito além da escrita silenciada da própria
vida.
Tenho encontrado Quelino nos
ambientes da Literatura. Na leitura de jovens de escolas públicas que descobrem
e reconhecem seus poemas na internet. Figura querida no âmbito das cálidas
Letras da Parahyba. Chega solitário pelas esquinas mais esquivas com mais um
livro. Que seja saudado com muita poesia entre os seletos e os dispersos.
Escrever e publicar um livro de poemas não é das coisas mais fáceis. Lembro de
um amigo dizer no lançamento do meu Texto Sentido, 2007, que eu estava “me
expondo muito”. Pois é, parece que Quelino também decidiu mais uma vez,
atravessar a Praça da Paz completamente nu. Sem medo de receber o Nobel diretamente
das mãos distraídas de Bob Dylan.
Lau Siqueira
Prefácio do livro de sonetos e haicais de Quelino Sousa.
Lau Siqueira
Prefácio do livro de sonetos e haicais de Quelino Sousa.
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