por Lau Siqueira
Nada acontece por acaso. No caso dos movimentos artísticos o melhor caminho é a provocação. É assim que funciona. Quer um bom exemplo? O CD Music From Paraíba. Inicialmente o objetivo seria lançar a música paraibana para produtores internacionais na WOMEC, a maior feira de música do mundo realizada no País de Gales. Isso já seria uma grande provocação. O CD é uma produção da Fundação Espaço Cultural da Paraíba, com a curadoria de Arthur Pessoa e Toninho Borbo. Todavia, o disco antecipou-se ao The Voice Brasil, da Rede Globo. No CD temos a voz de Lucy Alves cantando com o Clã Brasil. Antes da sua merecida explosão midiática. Aliás, o disco é uma mostra bem abrangente e atualizada da música paraibana. Mesmo com a ausência de nomes respeitáveis como Adeildo Vieira, Escurinho e Totonho, por exemplo.
No lançamento do CD realizado em João Pessoa no
final do ano passado, o que se viu foi a
presença firme de um público vibrante e antenado. Certamente um público
formador de opinião. E olhem que estamos falando apenas da música na terra de
tantas e tão imensas expressões. O fato é que o disco Music From Paraíba
agregou valor. A proposta já começa a traçar caminhos para a formação de um
movimento musical paraibano. A presença de artistas como Beto Brito, Socorro
Lira, Nectar do Groove, Sonora Sambagroove, Sandra Belê, Seu Pereira e Coletivo
401 e outros da mesma cepa (são vinte) revela que, esteticamente, a nossa música
vai muito bem obrigado. Tem produzido coisas belíssimas. Tem se renovado
permanentemente. Muitos dos grupos estão prontos para suprir a sede cultural do
povo brasileiro com a parte que lhes cabe no latifúndio concentrado do mercado da música, onde o jabá é o
instrumento da mediocridade.
Você tem dúvidas sobre o que está dito aqui? Então
compareça ao Atelier Nai Gomes (na Ladeira da Borborema) no próximo domingo, no
final da tarde. Lá estarão Beto Preah e a força da música instrumental, Os
Gonzagas e a sala-de-reboco da música mais original do país, o forró. Para
completar o quadro, o DJ Cassicobra. Numa época em que a cidade de João Pessoa
aprendeu a conviver com shows para grandes multidões, a cena contemporânea da
Paraíba vai garantindo seu espaço para um público seleto e fiel que saberá
repercutir cada show, porque sabe que mesmo sem competir com as grandes estruturas
midiáticas, a defesa de expressões tão belas e tão próximas é um caminho seguro
no terreno pantanoso da cultura. Não vamos reduzir a política cultural às
parafernálias luxuosas e aos cachês milionários. Estejamos atentos ao que
acontece aqui na Paraíba. Vamos descobrir a arte paraibana em toda a sua
diversidade, antes que a Rede Globo o faça.
Publicado no Jornal A União de hoje, 10.01.14
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