Por Lau Siqueira
Já não se fala mais em poeta municipal, poeta
estadual, poeta federal. A internet, pelo bem dos tempos e da história da boa
literatura, apagou de vez uma demarcação que divertia os grandes poetas
brasileiros como Carlos Drummond de Andrade. Agora nossa batalha é com o tempo.
É a luta contra o esquecimento de boas referências, muitas vezes substituídas
na memória neste tempo de mídia farta. Grandes nomes da literatura brasileira,
muitas vezes, sequer são reconhecidos na própria cidade de origem. Vivemos um
tempo de volubilidades consagradas. Aqui na Paraíba não são raros os nomes
importantes nas artes e nas letras que acabam caindo no esquecimento, em razão
de articulações da velha e barbada política literária.
O caso da poeta Zila Mamede, nascida em Nova
Palmeira-PB, em 1928 e falecida em
Natal-RN, em 1985 é emblemático. É certo que sua vida intelectual e
profissional desenvolveu-se quase que inteiramente na capital do RN, de onde
saiu para cursar Biblioteconomia no Rio de Janeiro e nos Estados Unidos. Na
volta, organizou e dirigiu a Biblioteca da UFRN que, merecidamente, hoje leva o
seu nome. No momento em que o país discute com um pouco mais de consistência as
necessidades do incentivo ao livro e à leitura, a Paraíba precisa resgatar no
nome, a vida e a obra poética de Zila Mamede. Já devidamente reconhecida em
Natal, Zila Mamede precisa ser também
reconhecida na sua terra como poeta e como referência na área de políticas
públicas para o livro e a leitura, devido às lutas da sua vida inteira de
dedicação aos livros e à cultura.
Zila Mamede fez parte do que se situa na História da
Literatura do nosso país como Geração Pós-45, juntamente Ledo Ivo, Carlos Pena
Filho e outros que buscaram recuperar as formas poéticas abandonadas pelos modernistas.
Não se trata aqui de expressar gosto literário ou de deixar de reconhecer o
grito libertário dos movimentos que dialogavam com as vanguardas europeias do
final do século XIX e início do século XX. Não se pode negar a influência que
tiveram e que ainda têm para a nova literatura brasileira, juntamente com a
Poesia Concreta que nos anos 50 se constituiu como o último grande movimento
literário em nosso país. Não se trata disso. O fato é que Zila Mamede precisa
ter sua obra resgatada também pelos paraibanos a partir, não do seu engajamento
literário, mas da consistência de uma obra poética marcou a literatura
brasileira com a delicadeza e a integridade de poemas como “A Ponte: (Salto
esculpido/ sobre o vão/ do espaço/ em chão/ de pedra e aço/ onde não/
permaneço/ - p a s s o)”. Por sua vida e
sua obra, já é tempo de reconhecermos Zila Mamede como um grande nome da
cultura e da literatura na Paraíba.
Texto que será publicado no Jornal A União, na próxima sexta-feira.
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