Por Lau Siqueira
Foi pelas redes sociais que recebi o depoimento comovido
de um amigo. Um verdadeiro soco no fígado. A realidade e suas vísceras
expostas. Ele falava de um adolescente de 14 anos que foi assassinado por outro
adolescente em plena tarde de sol, na periferia de João Pessoa. Segundo meu
amigo, a briga que era de bairro contra bairro agora é de esquina contra
esquina. Amigos de infância, quase crianças, estão se matando. A verdade é que
há muito essa tragédia deixou de ser um assunto policial. Essa matança virou produto e fomenta
audiências no país inteiro. Criaram uma disputa macabra por visibilidade. Este
é o pano de fundo do abismo social que nos cerca. Não há uma única ação
positiva com a juventude que mereça visibilidade. O sangue escorrendo na
calçada sempre fala mais alto. A criminalidade consolidou suas linguagens.
A violência se espalha pelo país. Não está apenas
nas grandes cidades, mas nas pequenas e médias. Na zona rural, também. Está na
sala de aula. Tem respaldo vigoroso na banalização midiática. Nas redes sociais
é escancarada a apologia ao crime. João Pessoa tem sido apontada como uma das
cidades mais violentas do país. O fato mobiliza os discursos mais cínicos. Aqui
se trata a violência também como moeda política. Todavia, há alguns anos já assistiamos
um juiz sendo aposentado por comandar uma rede de roubo de automóveis. Temos um
histórico de estruturação do crime organizado dentro das corporações
institucionais. Apesar de todas as vedações, a voz de comando se consolida
dentro dos presídios. Não se fala nisso. Os investimentos estaduais amenizam,
mas não resolvem porque a ciminalidade promove migrações regionais. Também não
se fala nisso.
Todos conhecem o enraizamento do mal. O Brasil é um
dos países mais violentos do mundo. Mas, estranhamente a violência não é um
debate nacional. O debate é fragmentado, estadualizado, municipalizado. Se
discute no varejo, apenas. A origem do problema não está em pauta. Não poderemos falar em combate à violência,
enquanto a matança continuar sendo a sobremesa do almoço e o café da manhã em programas
com 100% de audiência nas prisões. A violência virou referência de visibilidade
enquanto o debate vai sendo mascarado em mentiras como a redução maioridade
penal. Uma proposta que penaliza apenas quem já é penalizado pela vida. A
opinião desinformada e preconcentuosa superou a informação. Continuamos
carentes de políticas públicas eficientes e continuadas. Enquanto isso, os
movimentos sociais estão apáticos. Atrapalhados com as disputas pelo poder.
Enquanto isso, a sociedade civil organizada parece render-se civilizadamente à
modernização da barbárie.
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