Especialmente no século XIX a imprensa teve um papel determinante na formação do leitor e no gosto pela Literatura em nosso país. Era nos jornais que os nossos grandes autores encontravam o espaço mais imediato para a divulgação de suas obras. Ainda que de forma fragmentada. Mas foi em 1812, na Bahia, que surgiu a primeira revista literária brasileira. Chamava-se As Variedades, ou Ensaios de Literatura. Desde então se estabeleceu um elo muito consistente entre a imprensa literária e a Literatura. Através dos tempos as revistas e jornais literários passaram a ocupar uma posição estratégica na evolução e na história da Literatura brasileira.
Bem antes disso, o primeiro jornal literário editado no planeta Terra nasceu em Paris, no ano de 1631. Nunca é demais lembrar. Chamava-se Le Journal des Savants. Um veículo com um caráter científico e literário, fundado em Paris por um cara chamado Dennis de Sallo. Infelizmente o jornal e teve a heróica duração de 13 edições, apenas. Foi encerrado pelo torniquete da censura no reinado de Luis XIII, ironicamente chamado de O Justo.
Revistas e jornais literários sempre foram fundamentais na divulgação da produção literária. Não é possível imaginar, por exemplo, a Semana de Arte Moderna e mesmo o modernismo brasileiro, sem a presença ostensiva do mensário Klaxon. Era um veículo dedicado integralmente à veiculação das idéias e da produção modernista. Marcou seu tempo e encerrou suas atividades quando, dizem, “deixou de divertir, entre outros, o poeta Mario de Andrade - um de seus idealizadores e editores”.
Anos mais tarde, com o advento da Poesia Concreta, outra revista toma conta do cenário no início dos anos 50. Nascia a Noigandres (1952), veículo criado e dirigido pelos poetas Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Decio Pignatari. A partir da fundação desta revista a história nos mostra o calibre vanguarda brasileira. Não se tratava apenas de três jovens poetas inconformados com o conservadorismo da Revista Brasileira de Poesia que representava, na verdade, as vozes da Geração 45.
A Noigandres passou a incorporar, desde então, as idéias que fariam explodir para o mundo a estética e, principalmente, a ética do concretismo. (Diga-se de passagem, o único movimento literário genuinamente brasileiro.) A repercussão do concretismo no mundo certamente que ainda não tem dimensionada a sua importância. Da mesma forma não pode ser medida a importância - para a consolidação do concretismo - deste veículo cujo nome tem origem provençal. Nem mesmo Ezra Pound tinha lá tanta certeza do seu real significado. Mais tarde o critico alemão Hugh Kenner traduziu por “antídoto contra o tédio”. O que nos parece bem adequado para o dimensionamento dos impactos da porrada concretista, diante de um certo acomodamento pos-modernista.
Inicialmente citando essa ‘meia dúzia de três ou quatro’ veículos, podemos afirmar que nenhuma outra revista ou jornal literário, posterior ao feito baiano de 1822 ou mesmo sem a reverberação histórica da Klaxon e da Noigandres, teve menor importância. As revistas e jornais literários passaram a cumprir um papel que ainda hoje é determinante para pesquisadores e leitores da produção contemporânea. Na cena brasileira atual, objeto central deste artigo, as revistas (ainda que de forma, muitas vezes, pulverizada) asseguram aos autores dos mais diversos rincões a circulação das suas produções.
Na última década e meia principalmente, com o aparecimento e a popularização da internet, houve uma revolução na divulgação da literatura. Não são poucas as revistas de grande qualidade que circulam no espaço virtual e que, na verdade, continuam mapeando a produção contemporânea e resgatando a tradição. Assim como as revistas e os jornais impressos, os sites, blogs e portais literários continuam abrindo espaços para os novos e reordenando a historiografia literária brasileira.
Com o avanço tecnológico representado, especialmente, pelo aparecimento e pela popularização da web, a Poesia passou a ter um espaço midiático que nunca teve anteriormente. Isso não representou, absolutamente, um recuo no que se refere às edições impressas. Muito pelo contrario. Até mesmo a - antes careta - revista da Biblioteca Nacional, Poesia Sempre, passou a ter uma programação visual, uma editoração e uma linha editorial infinitamente mais atraente.
Revistas como A Cigarra, editada bravamente
A Inimigo Rumor, da Editora 7Letras, pode ser encontrada pelas principais livrarias brasileiras e costuma apresentar pequenas antologias, abrindo também espaços generosos para a produção brasileira emergente, seja de ensaístas, seja de poetas. Da mesma editora podemos encontrar a revista Ficções que, conforme sugere sua nomenclatura, costuma abrir espaços para a produção dos ficcionistas brasileiros e de outros países de Língua Portuguesa.
Aqui e ali somos surpreendidos por edições de luxo, como a paranaense ETCtara, editada inicialmente pela poeta pernambucana radicada em Curitiba, Jussara Salazar e pelo poeta e tradutor paulista Claudio Daniel. Ou mesmo por revistas como a também paranaense Coyote que surpreendem pela conjugação da economicidade editorial com uma programação visual impactante e um conteúdo que mistura irreverência e bom humor com um necessário rigor estético.
Podemos afirmar, atualmente, que tanto faz ser virtual ou impressa. O que importa é a qualidade e/ou diversidade dos conteúdos. Neste caso, não temos mais como desconhecer a importância do Jornal de Poesia (www.secrel.com.br/jpoesia) editado pelo gladiador solitário, Soares Feitosa. Ou mesmo o Portal Cronopios, do poeta Edson Cruz, (www.cronopios.com.br) que abriga em suas paginas alguns dos autores mais importantes da atualidade. Na mesma linha seguem as virtuais Errática (www.erratica.com.br) , Zunai (www.zunai.com.br) , Germina Literatura (www.germinaliteratura.com.br) e outras não menos importantes que passaram a compor os canais de pesquisa para profissionais da área e para os apaixonados pela Literatura.
Claro que num texto (e contexto) como esse, a certeza de naufragar na memória é inevitável. Por exemplo, quem não se lembra de Nicolau, editado pela imprensa oficial do Paraná? E a maravilhosa Porto & Virgula - infelizmente extinta – publicada pela Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre? E outras tantas como O Galo, de Natal, Brouhaha, também de Natal, O Capital, de Aracaju, os imprescindíveis Suplemento Literário de Minas Gerais e Suplemento Literário de Pernambuco. Também as virtuais Garganta da Serpente e Cisco Tronituante. Enfim, esses veículos não valem pelo número de acessos ou de exemplares publicados, mas sim por terem tornado a Literatura Brasileira Contemporânea um fato nacional (ou mesmo internacional) e irreversível. Apesar dos tropeços éticos na publicação de alguns textos que nada tem a ver com critica literária, não poderia deixar de registrar a existência tantas vezes lamentável do Jornal Rascunho, do Paraná.
A produção encontrável nas bancas, passa pela extinta Discutindo Literatura e pelos caminhos da Escala Editorial. A Bravo tem um defeito grave: obedece rigorosamente o conservadorismo editorial da Abril. Aqui no Nordeste, entretanto, temos a mais importante revista literária do país no âmbito da circulação comercial. Trata-se da Continente Multicultural, que abre espaços também para as outras linguagens artísticas com as quais dialoga a Literatura.
A tradição literária da terra de Jose Lins do Rego e Augusto dos Anjos, não deixa por menos. Além de ostentar o mais antigo e um dos mais dinâmicos veículos ainda em circulação no Brasil, o nosso Correio das Artes, a cena literária local já contou com uma história que trouxe até nossos dias uma revista importante como a campinense Garatuja que, antes de sua extinção, mostrou-nos caminhos da Literatura Paraibana que ainda hoje repercutem. Não foi diferente com o projeto Ler, da Editora Idéia. Muito menos com a nuvem passageira que foi o excelente jornal Olho D’água.
Nem de longe tentei estabelecer hierarquias nas minhas citações. Cometi omissões voluntárias e esquecimentos lamentáveis. Sei disso. Mas, o que eu quero dizer de forma definitiva é que seja por onde estejam sendo publicadas, as revistas literárias e os jornais literários, além de apontar caminhos e estabelecer critérios para uma boa leitura, aparecem neste início de milênio como uma explosão de boas novas, capazes de acender as esperanças de milhares de poetas, romancistas, ficcionistas, cronistas... Enfim, gente que sabe o quanto é importante estabelecer uma relação bastante determinada com a linguagem e com o publico leitor, num mesmo espaço capaz de absorver nossos defeitos e nossas mais terríveis qualidades.
5 comentários:
Pai, ainda acho que você deveria ser prof.! e você acabou de me ligar :))) feliz aniversário, tico!
Lau, muito bonita e concreta a exposição literária que aqui e em Cronópios vi. Se me permite, vou divulgar aos meus amigos do blog http://wwwmeulampejo.blogspot.com,
Pois trata-se de um resumo históeico das paradas de nossa literatura.
Muito obrigada pelo e-mail enviado, e estarei sempre atenta.
Grande abraço
Mirse
caro Lau recem li seu comentario no meu blog (acho que está desde dezembro do ano passado), obrigado pelas palavras ,eu tentei fazer uma traducao literal dos seus poemas só pra que a gente conheca seus poemas no méxico, obrigado again; olha meu mail é: sergiorios22@yahoo.com e sergioerios22@hotmail.com se vc quer falar ou qualquer coisa, fique com um grande abraco desde méxico foi um enorme prazer saber de vc
Lau Siqueira, poetamigo: grande honra contar com a sua atenção, sua leitura, sua visita maravilhosa ao meu humilde blog. Guardarei na memória a data de hoje. Saudações literárias.
PS: farei um link pra voc~e no blog.
Eu concordo com a sua filha!!
Vou repetir o que certa vez disse ao meu amigo Luiz de Almeida; fiz Faculdade de Letras e, hoje, aprendi mais aqui...
Abraços e parabéns atrasado pelo seu aniversário.
Sucesso, paz e saúde!
Taninha
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