sábado, 9 de novembro de 2019

AS FEIRAS LITERÁRIAS DA PARAÍBA


por Lau Siqueira

Já teve Salão do Livro na Paraíba. Já teve Bienal do Livro, também. Mas não se sustentaram. Apenas uma edição de cada. Foram produções basicamente governamentais e tiveram problemas. Grandes eventos, grandes problemas. Quem nunca? Mas todas as tentativas sempre são bem-vindas. Fica sempre a experiência e a certeza do caminho correto nas políticas públicas. O livro e a leitura têm impacto estruturante no desenvolvimento de uma cidade, um estado, um país. São ações estruturantes e motivadoras para a Educação. Aliás, investir em Educação significa, sobretudo, integrar as poliíticas educacionais no cotidiano da população. Existem outras, mas as feiras literárias são as grandes portas, as grandes travessias contra os conceitos de confinamento das cidades diante dos muros escolares. Se os ginásios são objeto de desejo, as bibliotecas escolares também podem ser.

A ABES - Associação Boqueirãoense de Escritores dá régua e compasso.
Em 2005 a FUNJOPE – Fundação Cultural de João Pessoa criou um departamento de literatura  e em 2006 surgiu o Agosto das Letras. Um evento que trouxe para João Pessoa toda a cena literária contemporânea. Em 2011 foi transformada em Augusto das Letras e morreu sendo recuperada com outro formato pela FUNESC – Fundação Espaço Cultural. Eventos governamentais sempre possuem tempo determinado, entretanto. Aliás, isso me parece bem natural. É como se cumprissem mandato.
Mas fora do eixo as coisas andam melhor. Em 2009 um grupo de escritores e escritoras do Cariri decidiram quebrar esse paradigma. Em Boqueirão, Cidade das Águas, nasceu a I FLIBO – Feira Literária de Boqueirão. A Associação Boqueirãoense de Escritores dava um grande passo e se constituiria na maior referência paraibana em pouco tempo. Em 2019 tivemos a X FLIBO. Inspirada em Boqueirão, a simpática cidade de Barra de São Miguel  também criou sua feira e a FLIBARRA hoje já é uma das mais importantes do Estado com um impacto importante na Educação e na Economia do município. De 2017 pra cá parece que houve uma explosão. As cidades, mesmo as menores, perceberam que poderiam realizar suas feiras literárias. Muitas vezes o trabalho de uma ou duas professoras em sala de aula eram o grande impulso.

Desta forma, nasceu a FELIPI – Feira Literária de Piancó que este ano já realizará sua terceira edição. Logo em seguida a pequena e bela cidade de Mãe D’água também partiu para realizar sua feira e a FLIMA este ano realizou sua segunda Edição. Monteiro, a “capital do Cariri” não ficou de fora e realizou a sua I FLIMON – Festa Literária de Monteiro ano passado. Também no Cariri a cidade de Gurjão que já realizava há dez anos um Seminário de Leitura (Bota pra Fazer), mudou o formato e criou a FLIG que deverá acontecer por esses dias. Por esses dias, também Campina Grande realizará sua segunda FLIC – Feira Literária de Campina Grande. A cidade já contava com um dos eventos mais importantes da literatura na Paraíba. Um  Seminário de Literatura é realizado em pleno carnaval com a organização do Núcleo Bleckaut  de Literatura. Pedras de Fogo não deixou por menos e este ano realizou a II FLIFOGO.

Mas não para por aí. Ano passado o Vale do Mamanguape realizou sua Feira Literária e este ano Barra de Mamanguape já prepara para 2020 a I FLIBA. O Brejo paraibano não poderia ficar fora desta onda literária e este ano já tivemos a FLIBANANEIRAS em Bananeiras e a FLAREIA, em Areia. Cidades com boa projeção turística acabam incorporando uma rede de feiras literárias que vai colocando a Paraíba num dos melhores roteiros do país. Com a cara e a coragem de professores e poetas a cidade de Pocinhos este ano realizou pela segunda vez a FLIPOCINHOS e Itabaiana através do grupo Sarau das Almas, realizou a FELITA. Logicamente que a terra de Augusto dos Anjos não poderia ficar de fora e teve a felicidade de realizar a FELIS – Feira Literária de Sapé. Cajazeiras, “a cidade que ensinou a Paraíba a ler” fará este ano a I FLICA que já nascerá grande. A cidade de Conde, no litoral sul fez sua feira ano passado e em 2019 realizará a II Feira Internacional de Literatura.

Enfim, com participação ínfima do poder público na maioria dos casos, parece que a febre vai tomando conta cada vez mais dessa verdadeira militância literária espalhada pelo Estado e onde ainda não aconteceu as pessoas começam a perceber que é possível fazer uma festa literária onde se deverá celebrar a literatura e não as estrelas do mundo literário brasileiro. Se não rola cachê, também é verdade que autores como Jairo Cesar e o pernambucano Abraão Filho comemoram a venda de livros que são lidos por crianças e jovens em algumas cidades. Não tenho dúvidas que ainda é muito pouco, mas já é um grande começo. Este ano a Secretaria de Educação Ciência e Tecnologia do Estado da Paraíba atendeu os apelos e trouxe para a rede pública um evento chamado FLIREDE que levará para mais algumas dezenas de escolas e municípios a ideia da celebração literária com as feiras literárias.

São dezenas de projetos literários espalhados pelo Estado. Estas são as semeaduras mais férteis para que mais festivais, feiras e festas literárias aconteçam. Algumas estão borbulhando, prontas para transbordar. É o caso de Matinhas, Santa Luiza, São Bento, Serra da Raiz e Uiraúna. Em Santa Rita parou e deve voltar porque deixou saudade, a FLITI – Feira Literária de Tibiri. Aliás, as ideias de feiras por bairros já não são novidade. Criador da Feira Literária de Marechal Deodoro, uma das mais prestigiadas do país, Carlito Maia agora realiza feiras literárias nos bairros de Maceió e ano passado tivemos a prestigiada FLIBARRA, na Barra. No bairro do Bancários, em João Pessoa, já se discute uma feira literária na Praça da Paz. Enfim, o bolo está crescendo e quem ganha com isso é a Paraíba, a sociedade paraibana. Afinal, as feiras literárias precisam de conteúdo e não de ostentação. Uma vez considerado o conceito e a necessidade de uma feira literária para dar consistência nas ações pedagógicas, meio caminho estará traçado. Devo ter esquecido de algumas, mas o cardápio está pronto. A esperança está no ar. Até mesmo a pequena cidade de Prata começa a se movimentar para mais uma feira no Cariri. Assunção tem tudo para uma feira focada no Cordel. Parece que em 2020 o bicho vai pegar.

NOVO É O ANO, MAS O TEMPO É ANTIGO

Não há o que dizer sobre o ano que chega. Tem fogos no reveillon. A maioria estará de branco. Eu nem vou ver os fogos e nem estarei de b...