Por Lau Siqueira
Artigo que será publicado na página 2 do Jornal A União do dia 31 de outubro de 2014.
Participação popular ainda é um aprendizado para a sociedade
brasileira. Alguns setores até preferem que isso nem exista. Mas, podemos dizer que a jovem e frágil
democracia brasileira não é mais revelada pela dita liberdade de imprensa. A
maioria dos jornais já não pratica o velho e bom jornalismo. São órgãos a
serviço de interesses políticos ou econômicos, apenas. O que mede o grau de
convivência democrática da sociedade brasileira hoje e, certamente da sociedade
mundial, são as redes sociais. É o lugar onde cada cidadão e cidadã expressa livremente
sua indignação, seus desejos, mas também seus preconceitos. O amor e o ódio
transbordam em um português nem sempre muito polido.
Nessas últimas eleições
as redes sociais foram o principal instrumento de expressão de grande parte da
população. As preferências e as formas de repúdio aos seus contrários estiveram
pipocando até o desaguadouro das urnas. Não que isso não esteja no cotidiano
dos usuários da rede. Todavia, inegavelmente, no período pré-eleitoral tudo foi
mais intenso. Os desejos individuais se tornaram mais claros e as opções
passaram de democráticas a impositivas. Os excessos aconteceram de lado a lado.
A sociedade brasileira se mostrou claramente dividida entre duas forças
antagônicas e os próximos dias, certamente, não serão assim tão tranquilos.
Toda sorte de
barbaridades foi proferida. Por exemplo, que Lula dividiu a sociedade
brasileira entre ricos e pobres. Ou seja, Lula inventou a luta de classes.
Coisa que seria risível se não fosse trágico. O olhar sobre a corrupção se
tornou agudo. O que é positivo, mas lamentável por ter sido um olhar única e
exclusivamente direcionado ao governo petista que, na verdade é um governo de
composição com partidos tradicionais. Esqueceram os escândalos impunes da era
PSDB, da era Collor e Sarney ou mesmo no império do silêncio do regime militar,
quando o Brasil era conhecido no exterior como o país dos 10%.
Amizades foram desfeitas.
Aconteceram brigas entre familiares. A dicotomia entre o bem e o mal, o amor e
o ódio, a competência e a incompetência deram o tom do debate no Facebook. As
emoções afloraram diante de uma razão cada vez mais frágil. Enfim, as redes
sociais cumpriram um papel determinante não apenas para definir os resultados
finais, mas para diagnosticar o momento atual da sociedade brasileira. A
intolerância foi o destaque preocupante num pleito marcado pela tragédia que
ceifou a vida de Eduardo Campos. Mas, o que assustou mesmo foi o tom fascista e
o poder de influência que ainda exercem veículos de comunicação visceralmente comprometidos
com o retrocesso social e político do Brasil e do mundo.
Artigo que será publicado na página 2 do Jornal A União do dia 31 de outubro de 2014.