Por Lau Siqueira
O fechamento do Ministério da Cultura no governo Bolsonaro não surpreende. No segundo governo Dilma o MinC já andava esmaecido. A posse de Juca Ferreira foi muito representativa. Praticamente todos os ministérios estavam lá. Todavia, as investidas golpistas buscando inviabilizar o governo foram imediatas e o MinC ficou praticamente paralisado. Não foi diferente com os demais ministérios. Juca Ferreira sentiu na pele a pancada da recessão e do golpe que derrubou Dilma. De 2015 até 2018 tivemos cinco ministros. Um retrato 3 x 4 do desmantelo. Após o impeachment a ideia de fechamento do Minc provocou protestos. As ocupações foram imediatas e vitoriosas. Temer voltou atrás. Mas, o ministério que emergiu do golpe foi uma instituição pífia comandada por oportunistas. Temer não extinguiu o MinC, mas subtraiu. Tratou de sufocar um ministério já sofrido. Bolsonaro apenas jogou a pá de cal.
Todavia, o que deveríamos esperar de um Ministério
da Cultura num governo Bolsonaro? Como lutar para termos um MinC submerso no
fascismo? Que quadros minimamente respeitáveis aceitariam comandar a pasta?
Regina Duarte? Olavo de Carvalho? Alexandre Frota? Penso que não cabe agora
esse resgate. O desmanche geral está configurado. Mas tudo renascerá das cinzas
em algum momento. Não perdemos apenas o MinC. Estamos perdendo o Brasil e acho
que, neste momento, as lutas fragmentadas apenas alimentarão o fracasso. A tragédia
anunciada estava posta e muitos tentaram escapar pelas beiradas. Talvez achando
que seria possível salvar a própria pele de uma morte anunciada. Para nossa
surpresa, o primeiro grupo que se curvou aos golpistas representava os Pontos
de Cultura, um selo do PT. Aliás, esta foi uma surpresa muito desagradável. Agora,
mais do que nunca, o embate deverá tomar proporções unificadoras. Somos trabalhadores
da cultura. O que estamos vivendo hoje vem sendo pedra cantada há tempos. Desde
2013, quando a esquerda aceitou participar de passeatas onde as bandeiras partidárias
estavam proibidas. Um comando oculto que hoje mostra-se nas faces da
intolerância.
Fomos sendo esmagados gradativamente. Agora é hora
de pensar, juntar os cacos e organizar os pontos para a reação. Mas não falo
apenas dos movimentos da cultura. Falo dos movimentos sociais e segmentos
progressistas. Falo de quem defende a Educação e a Saúde pública, as políticas
afirmativas, a soberania nacional, as instituições democráticas de modo geral. Há
uma desmoralização federalizada caminhando para um moralismo tosco. Pra quê
MinC num governo fascista? Essa visão setorialista nos enfraquece e nos afasta
da realidade. Lá nos rincões, não existe o cidadão da saúde, da educação, da
cultura. As necessidades são básicas e serão sempre as mesmas. A cultura é uma
força que nos alerta. Gilberto Gil, o
primeiro ministro da cultura artista, já dizia: “no
Brasil predominava uma visão muito eurocentrista e civilizada sobre a produção
cultural. Em nossa gestão procuramos dar atenção ao protagonismo popular e à
autogestão”. Aconteceram coisas belas, mas também ameaças
terríveis. Por exemplo, a invasão das comunidades tradicionais pelo
pentecostalismo. A disputa maior era estrutural e na base da sociedade.
Assistimos de camarote a nossa própria derrocada.
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