quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Uma grande indústria chega ao Sertão


Calma, gente. Não teremos nenhuma agressão ao meio ambiente. Não se trata de um empreendimento invasivo que traga constrangimento ou agressão aos valores culturais do sertão. Muito pelo contrário. Se trata de uma movimentação da cultura tradicional da região em harmonia com outras manifestações das diferentes regiões do Brasil e de países da América Latina. Uma ação muito bem articulada regionalmente pela Pisada do Sertão – uma instituição que cuida da proteção de crianças e jovens na cidade de Poço José de Moura. Uma ação estruturada na capacidade e na necessidade de constituir boas parcerias.

A Rota do Sol nasceu de uma grande vontade coletiva, como todas as outras rotas culturais que acontecem principalmente no Brejo. Numa viagem à Uiraúna em 2016 para discutir a Rota Cultural da Coluna Prestes, senti que um grupo ficou um tanto deslocado por estar fora daquele roteiro cultural e histórico. Afinal, a Coluna Prestes passou por vários municípios sertanejos, mas não por todos. Entrou em Uiraúna, no Distrito de Aparecida e saiu lá pela região de Princesa Isabel. Por ironia do destino a Rota da Coluna Prestes não se consolidou. No entanto ali estava começando a história da Rota do Sol. Uma ação cultural desenvolvida numa das piores crises econômicas já enfrentada nos últimos anos. Nesses momentos, a cultura sofre muito, pois está entre os setores essenciais, mas não prioritários em qualquer administração pública.

Entretanto, o poder de articulação das prefeituras de Triunfo, Bernardino Batista, Poço José de Moura, Joca Claudino e Uiraúna, em torno de um eixo organizacional criado pela Pisada do Sertão, nos levou a realizar em 2017 a primeira edição da Rota do Sol. O sucesso foi reconhecido pelas prefeituras, pelo público e grupos culturais. As trocas realizadas entre grupos da Paraíba com a cultura de Santa Catarina, Pará, Argentina, consolidou a Rota do Sol já no primeiro ano. A movimentação, inclusive da economia local, era visível em todos os sentidos. A Rota do Sol recebeu muita gente e encantou pelo profissionalismo dos organizadores. Portanto, era sim possível uma rota cultural no sertão, com autonomia e profissionalismo. Tudo funcionou com perfeição.

As trocas realizadas entre os brincantes, artistas de diversas regiões, não tem preço. Para o ano de 2018, um ano eleitoral e portanto um ano difícil de manter a unidade diante das diferenças políticas, a Pisada do Sertão deu mais uma demonstração de capacidade técnica na produção do evento. Sabemos como é raro conquistar recursos pela Lei Rouanet nos rincões brasileiros. Mas no segundo ano as grandes novidades eram exatamente a ampliação da Rota, com a cidade de Cajazeiras estreando. As primeiras captações de recursos via Lei Rouanet deram fôlego para este que já é considerado o maior evento do sertão da Paraíba. A convicção e o entusiasmo de todos os órgãos envolvidos, o profissionalismo e a aura de política pública garantiram o futuro da Rota do Sol.

A Paraíba assegurou presença na agenda anual da IOV – Seção Brasil, Organização Internacional de Folclore e Artes Populares, garantindo o intercâmbio artístico com diferentes regiões e países. No mais, a Rota deu visibilidade para municípios pequenos, mas com grande potencialidade. Beneficiou todas as cidades na mesma proporção, independentemente da sua área geográfica ou população. Não interferiu em nenhum calendário local, criando novas perspectivas para os municípios. Abriram-se possibilidades de tornar públicas as ações das próprias prefeituras, seja na área da cultura, educação ou ação social. Desta forma, acreditamos que o futuro da Rota do Sol ainda vai iluminar muito os caminhos de uma região sofrida que tem como grande riqueza um povo generoso, talentoso e criativo.


Lau Siqueira

Nenhum comentário:

NOVO É O ANO, MAS O TEMPO É ANTIGO

Não há o que dizer sobre o ano que chega. Tem fogos no reveillon. A maioria estará de branco. Eu nem vou ver os fogos e nem estarei de b...