sábado, 5 de julho de 2008

Yes, nós temos João!

(pequena crônica para uma crítica anunciada)

Lau Siqueira

Não posso dizer que fiquei triste quando li na coluna do meu querido Jamarri Nogueira que a programação do São João da capital era “fraquinha”. Fiquei foi embasbacado. Naquele momento sequer tínhamos anunciado a tal programação. Comecei a entender, então, o porquê de alguns artistas reclamarem da ausência de repercussão (positiva ou negativa) dos seus shows, espetáculos, lançamentos e exposições.
Mas, esse papo introdutório dá pano para outras mangas. Na verdade, o que impulsionou a reflexão deste momento foram as declarações de Biliu de Campina e Pinto do Acordeom em uma emissora de TV local. Eles ressaltavam as escolhas que foram feitas para a programação do São João de João Pessoa. Biliu chegou a brincar, dizendo que em muitas cidades havia um “Sem João” e que na capital era o verdadeiro “Tem João”.
O que ocorre, no entanto, é que não podemos sucumbir diante do lugar comum. Não se pode conceber um evento dito cultural que se renda às multidões. Porque as multidões, de um modo geral, estão previamente habilitadas para as estratégias da indústria cultural. Não se pode conceber uma gestão cultural que não tenha um caráter educativo. Até porque administrar é, sobretudo, um ato educativo. A realização de uma festa popular tão importante para o resgate da identidade cultural nordestina como os festejos juninos não poderia se dar de forma diferente. Por isso não podemos ficar calados diante das tentativas nada inocentes de jogar pérolas aos porcos.
O que se estabeleceu de forma silenciosa, mas sólida na capital da Paraíba nos quatro últimos anos foi um novo conceito de evento público. Em primeiro lugar, devido às escolhas. Em segundo lugar, por um planejamento que nos permite comemorar um índice insignificante de violência nos shows realizados durante o ano inteiro. Os festejos juninos este ano, entretanto, bateram o recorde. De 21 a 29 de junho, não houve um único empurrão no Largo de São Pedro, Praça Antenor Navarro e Conventinho - os três pólos da nossa festa. Algo a ser comemorado num tempo em que algumas festas de rua acabam virando praças de guerra e até mesmo contabilizando mortes.
O “João” da capital, entrementes, não se resumiu aos shows maravilhosos que aconteceram na praça Antenor Navarro. Como o do Quinteto Violado que nos mostrou ser possível colocar bailarinas no palco, sem vulgaridade. Foi assim com o balé popular de Recife! Também foi só plenitude Clã Brasil e Antônio Barros e Cecéu, que comprovam que as nossas grandes atrações podem sim morar na cidade. Da mesma forma o genial Pinto do Acordeom e os emergentes Cabra do Mateus, Maciel Salu, Mayra Barros e tantos outros. A presença de forrozeiros do primeiro time como Maciel Melo e Petrúcio Amorim selou o conceito de que podemos fazer um grande São João, sem concessões ao grotesco, ao mau gosto. Fechamos com chave de ouro, trazendo o excelente Santanna e a Poesia Popular Universal de Jessier Quirino.
Estamos consolidando o São João de João Pessoa como um grande festival regional de folclore. Mais de setecentos brincantes passaram pelo Largo de São Pedro. Era mazurca, coco de roda, nau catarineta, ciranda, reizado, mamulengo, cavalo marinho e outras expressões do imenso patrimônio imaterial da cultura nordestina. Quem esteve no Largo para dançar com Aurinha do Coco, Dona Teca, Dona Selma, ou Mané Baixinho, sabe do que estou falando.
Também foi esse o modelo que propiciou um novo debate acerca da vocação do Arraial do Varadouro. Um evento com capacidade própria de mobilização popular. É impossível negar fatos tão presentes na vida do Arraial. Existe um festival de quadrilhas já consolidado. No entanto, existem linhas de projeção folclórica, criadas a partir das quadrilhas e que não são mais quadrilhas. Alguns chamam pejorativamente de “estilizadas”. Na verdade são espetáculos belíssimos que também precisam de espaço próprio para cultivar suas linhagens contemporâneas, mesmo dentro de uma engrenagem de preservação da tradição e da identidade. Ao apresentar o grupo de carimbó, Moara, de Belém do Pará, o Arraial deu sinais de respirar o próprio futuro. Passaram por lá pessoas de Honduras, dos EUA, da Itália, da França e de outros lugares. E saíram maravilhados.
Em última análise, precisamos estabelecer esse debate. Afinal precisamos sintonizar linhas de comprometimento com a recuperação das antigas (e a descoberta de novas) potencialidades de desenvolvimento de uma cidade que ainda tem chances de escapar da barbárie urbana dos grandes centros. O fato de termos “João” nos enche de esperança. Uma esperança como a que foi conceituada por David Cooper: “não há esperança. Há uma luta. Esta é a nossa esperança.” E que venham as críticas, para que possamos pulsar melhor nossos argumentos. Nosso grande desafio está posto: conjugar tradição e contemporaneidade.

NOVO É O ANO, MAS O TEMPO É ANTIGO

Não há o que dizer sobre o ano que chega. Tem fogos no reveillon. A maioria estará de branco. Eu nem vou ver os fogos e nem estarei de b...