Por Lau Siqueira
Sempre que vejo o
Espaço Cultural da Paraíba cheio de crianças sinto uma emoção imensa. As
políticas de cultura, historicamente, deram pouca ou nenhuma atenção às
crianças. Outro dia li um comentário do meu amigo Petrônio Souto, jornalista
respeitado, sobre a indústria fonográfica: “enchem nossas crianças de besteirol
e depois querem resolver a com a redução da maioridade penal.” A cultura
oferecida para as crianças durante décadas foi a cultura do consumo. A
violência impera nas programações da TV. A erotização da infância tomou
proporções assustadoras a partir de apresentadores como Xuxa e Gugu.
Mesmo os movimentos
sociais da cultura quando fazem suas reivindicações, geralmente, não ultrapassam
o nó do próprio umbigo. Cada qual que se limite às suas reivindicações
corporativas. Pouco ou nada é pensado para as crianças na sociedade do
espetáculo. Daí a recorrente presença de adolescentes bêbados ou drogados em
shows que seriam para adultos. Falta nas políticas de cultura a formação cidadã.
Isso começa, sem dúvidas, com uma priorização de investimentos para os
pequenos. Seja com bibliotecas e formação de leitores, teatro, cinema, música
ou outra área qualquer. Esse gancho,
aliás, vai medir as reais intenções de algumas cobranças quase truculentas em relação
à gestão pública.
Outro dia ouvi do Chico
Cesar, secretário de Cultura da Paraíba, que “tem muita gente no palco e pouca
gente na plateia”. Captei imediatamente a observação perspicaz do nobre catolaico.
Há uma necessidade infame de visibilidade. Seja qual for essa visibilidade. Talvez
por isso vejamos jovens sedentos de palco tentando imitar seus ídolos de forma
pífia e achando que temos a obrigação de aplaudir. Cada vez mais estou convicto
que não se faz política de cultura para os artistas, mas para o público. Os
artistas são os agentes dessa política pública. Da mesma forma que os
professores são os agentes das políticas de educação.
O Espaço Cultural da
Paraíba tem buscado essa inversão. Ao contrário do que pensam alguns, o Espaço
é um lugar de arte e cultura e não uma casa de shows. Lá existem documentos
assinados por Dom Pedro I e uma biblioteca com cem mil títulos. O conhecimento
é a sua principal missão. Existe museu, escola de dança, escola de música, planetário,
etc. Em fase de finalização depois da sua grande reforma, o Espaço está cada
vez mais vivo e cada vez mais com as portas abertas para a formação cidadã do
povo paraibano. A meta é traçar uma política de democratização do conhecimento
para crianças e jovens. Neste momento a reforma que se inicia no maior equipamento
cultural da América Latina é conceitual. Não temos tempo a perder. Cada momento
pode ser a nossa última chance.
Artigo que será publicado no Jornal A União do próximo dia 10/10.14
Artigo que será publicado no Jornal A União do próximo dia 10/10.14
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