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Lau Siqueira
Toda obra de arte traduz seu próprio tempo. No entanto não há, para a obra de arte, um tempo linear. Como diz o poeta Manuel de Barros no Livro das Ignorãnças, “Não sei mais calcular a cor das horas. As coisas me ampliaram para menos”. Assim, numa primeira leitura da obra do artista plástico paraibano Denis Cavalcanti já se revela a atitude racional, precisa, rigorosamente futurista, vocacionada às imensidões do acaso. O artista constrói uma equação devotada ao mergulho num rio de mutações cores e formas. Na imprevisibilidade de um salto seguro que se traduz na ambivalência e nas especificidades do fator humano.
O artista convulsiona e ambienta suas influências de modo a construir a singularidade de uma linguagem capaz de amparar a permanência do abstrato. Todavia, espelha-se na concretude de uma era de velocidades, onde a arte que se cumpre vai também compactuando com a mais densa sensibilidade. Mas, que outra função teria a arte que não a de aflorar as imensidões e cometer as incertezas que permitem o ato inventivo? A perenidade, portanto, risca seus mapas na íris de cada leitura, de cada olhar com suficiente alcance para os desenredos da imaginação. E assim Denis Cavalcanti vai tecendo suas evocações ao silêncio. Entrementes, o que se revela é a plenitude de um grito. Na verdade uma obra que nos traz ao mesmo tempo o posto e o seu oposto.
Estamos diante de um artista cujas metáforas construídas nos remetem às emoções mais densas e ao mesmo tempo às premissas de uma ausência absoluta. Um vácuo onde a permissividade libertária une o veio criador aos relatos de uma reengenharia do tempo. Um lugar onde apenas o desconhecido é linear. Denis desobstrui as insígnias do que poderia enquadrá-lo, por exemplo, num neoplasticismo. Ele respira um hábito criador que se estende do clássico aos infinitos conduzidos pela experimentação permanente. Coisa que se reconhece no hálito de toda boa arte de vanguarda, num tempo que o próprio tempo determina.
Texto de apresentação do livro e site do artista plástico paraibano Dênis Cavalcanti.
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