por Lau Siqueira
Os eventos de literatura têm proliferado pelo Brasil afora, talvez, como em nenhum outro momento da história. Até mesmo pequenos municípios brasileiros começam a ganhar um certo destaque. Se é bom que assim seja, não temos dúvidas. Mas que isso pode melhorar é a nossa melhor certeza. Um dos maiores desafios é fazer com que esses eventos deixem de ser meros encontros de escritores e de meia dúzia de apaixonados leitores, geralmente, movidos por razões mais midiáticas que propriamente literárias. Aqui em João Pessoa não é diferente. O Agosto das Letras entrou na programação cultural da cidade em 2006, deixando de acontecer em 2008 e retornando nos anos posteriores com um formato mais denso, mas ainda assim com os problemas comuns a maioria dos eventos literários espalhados pelo mundo.
No interior do Rio Grande do Sul, provavelmente, esteja sendo realizado o mais importante evento de literatura do país. A Jornada Literária de Passo Fundo não deixa de ser um grande encontro de escritores, mas, sobretudo, passou a ser uma importante política pública na formação de leitores. Os autores convidados são estudados nas escolas no ano anterior e quando chegam ao evento para os diálogos propostos têm a certeza de terem sido lidos por grande parte da platéia. Este é um dos aspéctos que diferencia a Jornada Literária de Passo Fundo até mesmo dos demais grandes eventos literários, como a Feira do Livro de Porto Alegre, os Salões do Livro e Bienais que se espalham pelo país como modelo de incentivo ao mercado do livro. No entanto devemos ter claro que os interesses do mercado do livro geralmente estão distantes dos interesses da literatura. Portanto, a despeito dos grandes investimentos das Feiras, Salões e Bienais, fiquemos com o que interessa entre o joio dos trigais e as águas profundas da imaginação.
Nomes da mais alta relevância da literatura brasileira contemporânea já passaram pelo Agosto das Letras. Sejam eles paraibanos ou de outros estados. Uma das melhores revelações do evento foi ter confirmado a literatura paraibana como uma das mais importantes do país. Também é preciso reconhecermos que apontaram por aqui projetos editoriais importantes como o Dulcinéia Catadora e, neste último Agosto, os projetos Cidade Poema e Instante Estante. Não se pode dizer, absolutamente, que nada valeu a pena. Muito pelo contrário, estamos construindo uma história. Aliás, o discurso da “terra arrasada” é a parte que ficará, certamente, para os jaburus da disputa política que querem medir forças segurando as alças da diluição cultural e da estupidez enquanto método de disputa. Devemos estar atentos aos oportunistas de plantão que criticam sem propor e que desdenham da coragem que não possuem. Logicamente que os oportunistas de plantão também deverão querer dimensionar os fatos dentro das suas correntes de interesses (e haja bocão!).
Por isso tudo, antes que o mês de agosto de 2011 acabe, devemos começar a discutir o próximo Agosto das Letras. Certamente com uma proposta de ampliação das suas articulações, com a política das bibliotecas, das editoras existentes no município, com as secretarias de educação do município e do estado, com os cursos de letras das universidades paraibanas, com as iniciativas que vem sendo desenvolvidas em cidades como Nova Palmeira, Boqueirão, Cajazeiras, Aparecida e outras. Ampliando o diálogo nordestino, a partir de agitadores das cenas de Natal, e aí eu cito entre outros o poeta Carlos Gurgel que por aqui esteve lançando seu livro e os companheiros e companheiras de Pernambuco, Ceará, Sergipe e Alagoas, apenas para citar os mais próximos.
Não vai aqui nenhum tipo de condenação a um evento que, tenham certeza, foi concebido exatamente para estimular a literatura enquanto forma de pensar o mundo que vivemos e enquanto tábua de conhecimento para as novas gerações. Estamos propondo exatamente o contrário. Na verdade, estabelecemos aqui uma saudável provocação para que o Fórum de Literatura de João Pessoa, um instrumento poderoso mas que não tem conseguido caminhar com as próprias pernas, chame para si a responsabilidade de convocar a Fundação Cultural de João Pessoa para discutir o evento e propor um formato que insira o Agosto das Letras no âmbito das oficinas de leitura desenvolvidas pela própria fundação, por exemplo, dialogando também com todos os agentes da cena literária local: editores, livreiros, autores, bibliotecários, professores de literatura, criadores de outras artes, uma vez que o evento se mostra vocacionado ao multiculturalismo e aos anseios das políticas públicas.
Seria interessante que o Fórum de Literatura se reunisse provocando este momento ainda no mês de agosto de 2011. É bom pensar sobre a carne quente e ainda pulsante. Mas, esperamos que esta avaliação do V Agosto das Letras não se configure em retaliações baratas de vaidades e interesses feridos. Avaliar o V Agosto das Letras vai significar que estamos buscando melhores caminhos para que o evento que já se refenciou nacionalmente como um dos mais interessantes passe a exercer boas influências, também, junto ao público das escolas públicas, das universidades, das experiências máximas como a Biblioteca Comunitária Cactus. Também como o Sebo Cultural enquanto experiência de diálogo com o autor local e outras percepções que possamos apanhar neste campo de centeios e mandacarus, com muitas pedras no meio do caminho que é o mercado do livro na Paraíba.
Enfim, pro dia nascer feliz. Sigamos em frente...
No interior do Rio Grande do Sul, provavelmente, esteja sendo realizado o mais importante evento de literatura do país. A Jornada Literária de Passo Fundo não deixa de ser um grande encontro de escritores, mas, sobretudo, passou a ser uma importante política pública na formação de leitores. Os autores convidados são estudados nas escolas no ano anterior e quando chegam ao evento para os diálogos propostos têm a certeza de terem sido lidos por grande parte da platéia. Este é um dos aspéctos que diferencia a Jornada Literária de Passo Fundo até mesmo dos demais grandes eventos literários, como a Feira do Livro de Porto Alegre, os Salões do Livro e Bienais que se espalham pelo país como modelo de incentivo ao mercado do livro. No entanto devemos ter claro que os interesses do mercado do livro geralmente estão distantes dos interesses da literatura. Portanto, a despeito dos grandes investimentos das Feiras, Salões e Bienais, fiquemos com o que interessa entre o joio dos trigais e as águas profundas da imaginação.
Os eventos literários (e o Agosto das Letras não escapa disso) têm seguido um modelo que contribui de forma bastante acentuada para as trocas necessárias entre os escritores de norte à sul do país. Portanto, o Agosto das Letras não é um evento que esteja rendido aos interesses não muito inocentes do mercado do livro, como as frias Bienais, Salões e Feiras de Livro espalhadas pelo país. Também não quero dizer que esses eventos não são necessários, mas é preciso que se compreenda que os interesses de um e de outro são distintos. O Agosto das Letras é um evento que prima pela qualidade das suas escolhas, aprimora cada vez mais a troca de experiências entre as políticas de fomento da literatura, principalmente, no meio alternativo. Traz provocações importantes para o centro da cena, mas como o FestPoa Literária (que é um evento privado), os Encontros de Interrogação do Itaú Cultural (que também é privado) o extinto Festival Literário de Recife (que é do poder público), ainda não se revela como estratégia de pollítica pública para estreitar a relação entre o público leitor e o autor ou a autora. Logicamente que com todos os interesses mercadológicos que cercam essa relação.
Nomes da mais alta relevância da literatura brasileira contemporânea já passaram pelo Agosto das Letras. Sejam eles paraibanos ou de outros estados. Uma das melhores revelações do evento foi ter confirmado a literatura paraibana como uma das mais importantes do país. Também é preciso reconhecermos que apontaram por aqui projetos editoriais importantes como o Dulcinéia Catadora e, neste último Agosto, os projetos Cidade Poema e Instante Estante. Não se pode dizer, absolutamente, que nada valeu a pena. Muito pelo contrário, estamos construindo uma história. Aliás, o discurso da “terra arrasada” é a parte que ficará, certamente, para os jaburus da disputa política que querem medir forças segurando as alças da diluição cultural e da estupidez enquanto método de disputa. Devemos estar atentos aos oportunistas de plantão que criticam sem propor e que desdenham da coragem que não possuem. Logicamente que os oportunistas de plantão também deverão querer dimensionar os fatos dentro das suas correntes de interesses (e haja bocão!).
Por isso tudo, antes que o mês de agosto de 2011 acabe, devemos começar a discutir o próximo Agosto das Letras. Certamente com uma proposta de ampliação das suas articulações, com a política das bibliotecas, das editoras existentes no município, com as secretarias de educação do município e do estado, com os cursos de letras das universidades paraibanas, com as iniciativas que vem sendo desenvolvidas em cidades como Nova Palmeira, Boqueirão, Cajazeiras, Aparecida e outras. Ampliando o diálogo nordestino, a partir de agitadores das cenas de Natal, e aí eu cito entre outros o poeta Carlos Gurgel que por aqui esteve lançando seu livro e os companheiros e companheiras de Pernambuco, Ceará, Sergipe e Alagoas, apenas para citar os mais próximos.
Lembro que o evento teve um início bastante tumultuado em 2006, com diversos pólos e quase que nenhuma repercussão. Em 2007, conseguiu estabelecer relações com o Festival Literário de Recife, realizando trocas efetivas com participações de autores locais e trazendo consigo uma proposta editorial a partir do projeto Novos Escritos. Foram 10 autores lançados em 2007, o que consideramos bastante significativo. Para ter repensada a sua significação o evento deixou de acontecer em 2008, ano eleitoral, retornando em 2009 novamente com a publicação de livros de autores locais e uma bem articulada curadoria do poeta André Ricardo Aguiar que se refletiu também em 2010 e 2011. No entanto, mais uma vez faltou essa articulação maior com outros atores do campo da literatura e do conhecimento. Até mesmo alguma coisa que cortasse a carne da vaidade em alguns de nossos poderosos intelectuais que “acham feio o que não é espelho”. Na pele escancarada dos dias e noites, uma Sol que não se importasse em nascer primeiro e dormir mais tarde...
Não vai aqui nenhum tipo de condenação a um evento que, tenham certeza, foi concebido exatamente para estimular a literatura enquanto forma de pensar o mundo que vivemos e enquanto tábua de conhecimento para as novas gerações. Estamos propondo exatamente o contrário. Na verdade, estabelecemos aqui uma saudável provocação para que o Fórum de Literatura de João Pessoa, um instrumento poderoso mas que não tem conseguido caminhar com as próprias pernas, chame para si a responsabilidade de convocar a Fundação Cultural de João Pessoa para discutir o evento e propor um formato que insira o Agosto das Letras no âmbito das oficinas de leitura desenvolvidas pela própria fundação, por exemplo, dialogando também com todos os agentes da cena literária local: editores, livreiros, autores, bibliotecários, professores de literatura, criadores de outras artes, uma vez que o evento se mostra vocacionado ao multiculturalismo e aos anseios das políticas públicas.
Seria interessante que o Fórum de Literatura se reunisse provocando este momento ainda no mês de agosto de 2011. É bom pensar sobre a carne quente e ainda pulsante. Mas, esperamos que esta avaliação do V Agosto das Letras não se configure em retaliações baratas de vaidades e interesses feridos. Avaliar o V Agosto das Letras vai significar que estamos buscando melhores caminhos para que o evento que já se refenciou nacionalmente como um dos mais interessantes passe a exercer boas influências, também, junto ao público das escolas públicas, das universidades, das experiências máximas como a Biblioteca Comunitária Cactus. Também como o Sebo Cultural enquanto experiência de diálogo com o autor local e outras percepções que possamos apanhar neste campo de centeios e mandacarus, com muitas pedras no meio do caminho que é o mercado do livro na Paraíba.
Enfim, pro dia nascer feliz. Sigamos em frente...
2 comentários:
Lau!
Vai haver a Bienal do Livro aqui no Rio de Janeiro.Local: Rio Centro, um lugar de difícil acesso e a certeza de ser assaltado entre o estacionamento e o próprio local. Já fui em várias, atualmente não posso, por motivos de saúde, mas o que vi, não gostei.Apenas autores famosos, como Lya Luft, Ferreira Gullar, e outros que já levam jornalistas e imprensa, tem o stand cheio. os novos com muita sorte vendem um ou dois livros.
Não sei como é aí, mas aqui, rola esse quadro .
Ótima postagem, porque precisamos nos unir para saber o porque que grandes mas não famosos, não tem chance!
Forte abraço!
Mirze
Oi, Lau! Sua avaliação sobre o "Agosto das Letras" diz muito do que eu vi também, salvaguardando, claro, as qualidades do evento, a partir, inclusive, da escolha dos convidados.
Aprovo a sua ideia de se disseminar o evento pelas escolas públicas, por exemplo, estudando previamente os autores convidados. Como professora, eu sugiro (se possível, pois reconheço as dificuldades de se definir uma agenda) que esses autores sejam divulgados entre nós com alguns meses de antecedência para que possamos desenvolver um trabalho decente em sala de aula.
Beijo. Analice
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