LIVRO, LEITURA, LITERATURA E CIDADANIA
“A literatura é um dos direitos humanos.” (Antônio Cândido)
“A literatura é um dos direitos humanos.” (Antônio Cândido)
por Lau Siqueira
A Cidade das Acácias ficou mais bela depois da semeadura que foi realizada no dia 07 de fevereiro deste ano, na comunidade Tito Silva. A Avenida José Américo de Almeida (nas proximidades da lombada eletrônica) recebeu a Biblioteca Comunitária Antônio Soares de Lima, com financiamento do Fundo Municipal de Cultura – FMC e com o apoio imprescindível, do SINDLIMP – Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Limpeza Urbana de João Pessoa, Movimento de Luta nos Bairros – MLB, Coletivo Olga Benário e outras parcerias buscadas pela associação comunitária do bairro – CEIFA, especialmente através da sua presidente, Rosilene Santana, uma militante da resistência que ainda se respira nos movimentos populares e nos movimentos de mulheres.
A Cidade das Acácias ficou mais bela depois da semeadura que foi realizada no dia 07 de fevereiro deste ano, na comunidade Tito Silva. A Avenida José Américo de Almeida (nas proximidades da lombada eletrônica) recebeu a Biblioteca Comunitária Antônio Soares de Lima, com financiamento do Fundo Municipal de Cultura – FMC e com o apoio imprescindível, do SINDLIMP – Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Limpeza Urbana de João Pessoa, Movimento de Luta nos Bairros – MLB, Coletivo Olga Benário e outras parcerias buscadas pela associação comunitária do bairro – CEIFA, especialmente através da sua presidente, Rosilene Santana, uma militante da resistência que ainda se respira nos movimentos populares e nos movimentos de mulheres.
Um movimento social capaz de criar uma biblioteca
comunitária é um importante contraponto aos mega-eventos - sabidamente as
Bienais e Salões do Livro que fomentam a concentração de lucros dentro do
mercado do livro, geralmente deixando nada ou muito pouco para as populações
locais. Menos ainda para os escritores, escritoras e
agentes promotores do livro e da leitura. Portanto, cabe aqui uma breve
reflexão acerca do que significa hoje o mercado do livro no Brasil para as
políticas públicas de leitura. Nosso país é o décimo maior produtor de livros
do mundo. O Ministério da Educação é o terceiro maior comprador de livros do
mundo. No entanto o mercado do livro está mais neoliberal que nunca.
Silenciosamente foi concentrando sua imensa lucratividade em conglomerados
editoriais cada vez mais concentrados. Sem alarde, foi permitindo a compra de
editoras brasileiras tradicionais como a Editora Moderna, por corporações
internacionais. Apesar de tudo, parece que não está acontecendo nada. Portanto,
a comunidade Tito Silva recebeu no dia 07 de fevereiro a semente de uma pequena
revolução.
No debate sobre livro e leitura no
Brasil esse tipo relação precisa ficar muito evidente. Afinal, é como se não
estivéssemos cercados de relações perigosas, de lucros para poucos e perdas
para muitos. Que interesses movem os mega-eventos promovidos pelos tubarões do
livro? Onde se localiza fomento ao mercado local na grande movimentação de
recursos públicos destinados para esses eventos? Que espaço esse derrame de
recursos tem destinado para a formação de leitores, incentivo à leitura e
fomento à literatura brasileira? O que se pode conduzir em termos de
protagonismo para a juventude a partir desses investimentos? Ou seja: qual é a
contrapartida do mercado do livro diante de lucros tamanhos amparados pelo
dinheiro do povo? Na verdade, além da evasão de divisas, esses
shoppings ambulantes em que se transformaram as Bienais e os charmosos Salões
do Livro são fatores de uma grande concentração de lucro em quem já demanda do
Governo Federal uma situação privilegiada de enriquecimento, com as facilidades
da inadequada e ultrapassada lei 8.666 que rege licitações e contratos.
Seriam tantos outros os argumentos para
considerarmos o imenso abismo entre os efeitos de uma biblioteca comunitária
numa comunidade pobre de João Pessoa e os bilhões investidos pelos governos
federal, estaduais e municipais para sustentar a lucratividade de poucos com a
compra de livros, em detrimento de políticas públicas ainda inconsistentes para
o livro, a literatura e a leitura. Faltam incentivos à criação literária e aos
mercados regionais, na mesma proporção. O que se revela quando o debate
transborda é uma inexplicável apatia por parte dos seus segmentos, sempre
mergulhados nos interesses corporativos. Na verdade há uma imponente covardia
por parte de alguns que temem perder espaços em parcas mesas de debates onde os
umbigos e algumas serelepes vaidades acadêmicas são o objeto central do que não
movimenta absolutamente nada. É como se estivéssemos tratando como sagrada a
profanação da nossa cultura e da nossa educação. No caso dos escritores, as
bienais não deixam nada além de alguns trocados na conta de umas poucas figuras
repetidas que se revezam nesta imensa farsa.
Para as comunidades, não deixam uma única biblioteca comunitária, um
único ponto de leitura...
ANTÔNIO SOARES DE LIMA
ANTÔNIO SOARES DE LIMA
Você sabe quem foi Antônio Soares de Lima,
personalidade que deu nome à Biblioteca Comunitária da comunidade Tito Silva?
Antônio Soares de Lima foi um líder comunitário, recentemente falecido,
conhecido como Chuá. Letrado nas lutas populares, analfabeto formal, mas jamais
um analfabeto político. Chuá demonstrou toda a sua dignidade ao pedir desculpas
à comunidade, pouco antes de morrer, por não saber ler e escrever. Ele achava que por isso não conseguiu
trabalhar mais pela diminuição daquele
imenso abismo social estabelecido no lugar onde viveu. Como cidadão e militante,
sabia que a exclusão é o que permite que pessoas vulneráveis socialmente sejam
usadas pela falta de escrúpulos de alguns políticos, diante das omissões da
sociedade. Na verdade, Chuá morreu sem saber que foi um símbolo também da luta
pela afirmação da literatura brasileira, pela cidadania plena, da distribuição
de renda que no mercado do livro é algo vergonhoso. Sem contar com os prejuízos
intelectuais proporcionados pela comercialização em massa de lixo impresso,
leituras alienantes que em nada consideram os muitos saberes contidos na boa
literatura. Como dizia o francês Roland Barthes, “a literatura contém muitos
saberes”. Mas, parece que isso não está posto no debate que o Ministério da
Cultura, a Biblioteca Nacional, fundações e secretarias de educação e cultura buscam
desenvolver neste momento da história brasileira, onde as dúvidas superam as
certezas. Os avanços são mínimos e os investimentos são distorcidos. Investem
no mercado do livro, como se fosse investimento na formação de leitores e na
literatura. Estamos longe de uma democracia real, embora alguns setores estejam
caminhando nesta direção. Precisamos de um país leitor, de um estado e de uma
cidade leitora para que possamos nos desculpar com a memória de Chuá.
Um comentário:
Muito bem notado. Uma iniciativa assim, na raiz de sua motivação, é muito mais relevante para a propagação do ato de ler, sobre aquilo que ele tem de transformador das mentalidades, que todo esse oba-oba e espetacularização em torno das bienais e feiras, de caráter visivelmente mercadológico.
Um abraço.
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