Por Lau Siqueira
Este artigo será publicado no Jornal A União, no dia 14 de março. João Pessoa-PB.
Anos atrás o pesquisador e dramaturgo paraibano Altimar Pimentel, já
falecido, revelou um fato muito pitoresco. Segundo ele, quando Secretário de Cultura
no Governo Wilson Braga, foi chamado pelo governador para conter um protesto de
artistas em frente ao Palácio da Redenção. Bem no seu estilo, Braga disparou:
“- Altimar, atende esse povo. Artista não
dá voto, mas tira.” O que há de
risível há de revelador neste caso. O artista é um cidadão comum. Existem os
alieanados, os oportunistas e, logicamente, os bem intencionados. Mas, o exercício
da criação faz do artista um ser naturalmente
crítico. Isso independe de ideologia. Muitos foram e são filiados à partidos de
esquerda. Alguns são anarquistas, mas há também os fascistas convictos. Dissimulados ou não. Escondem-se,
muitas vezes, em representações dos movimentos sociais.
Esse não é um cenário
regional, ou nacional. Está na história do mundo. Vladimir Maiakovski foi o
poeta da Revolução Bolchevique, mas criticava o “reunismo” do PC. Ezra Pound,
tão imenso quanto Maiakovski, migrou para os braços do fascismo. Mas, escreveu
o ABC da Literatura. De Victor Jara, o ditador Pinochet cortou as mãos para impedir
que cantasse. Mesmo assim o poeta ainda bradou: “- Yo canto!” Na gestão
pública, alguns artistas deixaram sua marca. Um deles foi Mário de Andrade. Escreveu
de próprio punho o projeto do que hoje é o IPHAN – Instituto do Patrimônio
Histórico e Artistico Nacional. Mesmo assim também recebeu coices de seus
companheiros, na década de 30. Aliás, ele foi o primeiro gestor cultural do
Brasil, na Diretoria de Cultura de São Paulo.
Em pleno século
XXI temos um quadro semelhante. Artistas conservadores, progressistas,
oportunistas, boas cabeças e alienados patológicos. Tudo isso circulando entre o
palco e a platéia dos nossos dias. Alguns carregam na indefinição. Ocultam-se em
discursos anti-governistas. Como se isso fosse definição ideológica. Esta
semana um fato me chamou a atenção. Um cidadão, escondido no perfil de uma
banda chamada “Fases da Lua” protestou contra uma postagem sobre a ditadura, no
Facebook. O roqueiro quarentão defendeu os
militares, atacou os gays e os comunistas. Essa história que não começou hoje e
não terminará amanhã. Mas, a democracia é uma conquista. Derrotá-la seria
consagrar a corrupção silenciosa dos tempos sombrios. Maluf é o maior símbolo da
corrupção acobertada pelos militares. Se engana quem quiser. Nossas mazelas são
históricas e foram consolidadas exatamente pelas ditaduras pelas quais
passamos. Portanto, defender a ditadura como solução para os problemas
brasileiros é um atestado de ignorância. Ponto final.
Este artigo será publicado no Jornal A União, no dia 14 de março. João Pessoa-PB.
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