quarta-feira, 12 de março de 2014

OS ARTISTAS E A POLÍTICA

Por Lau Siqueira


         Anos atrás o pesquisador  e dramaturgo paraibano Altimar Pimentel, já falecido, revelou um fato muito pitoresco. Segundo ele, quando Secretário de Cultura no Governo Wilson Braga, foi chamado pelo governador para conter um protesto de artistas em frente ao Palácio da Redenção. Bem no seu estilo, Braga disparou: “- Altimar, atende esse povo. Artista não dá voto, mas tira.  O que há de risível há de revelador neste caso. O artista é um cidadão comum. Existem os alieanados, os oportunistas e, logicamente, os bem intencionados. Mas, o exercício  da criação faz do artista um ser naturalmente crítico. Isso independe de ideologia. Muitos foram e são filiados à partidos de esquerda. Alguns são anarquistas, mas há também os  fascistas convictos. Dissimulados ou não. Escondem-se, muitas vezes, em representações dos movimentos sociais.

Esse não é um cenário regional, ou nacional. Está na história do mundo. Vladimir Maiakovski foi o poeta da Revolução Bolchevique, mas criticava o “reunismo” do PC. Ezra Pound, tão imenso quanto Maiakovski, migrou para os braços do fascismo. Mas, escreveu o ABC da Literatura. De Victor Jara, o ditador Pinochet cortou as mãos para impedir que cantasse. Mesmo assim o poeta ainda bradou: “- Yo canto!”  Na gestão pública, alguns artistas deixaram sua marca. Um deles foi Mário de Andrade. Escreveu de próprio punho o projeto do que hoje é o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional. Mesmo assim também recebeu coices de seus companheiros, na década de 30. Aliás, ele foi o primeiro gestor cultural do Brasil, na Diretoria de Cultura de São Paulo.

Em pleno século XXI temos um quadro semelhante. Artistas conservadores, progressistas, oportunistas, boas cabeças e alienados patológicos. Tudo isso circulando entre o palco e a platéia dos nossos dias. Alguns carregam na indefinição. Ocultam-se em discursos anti-governistas. Como se isso fosse definição ideológica. Esta semana um fato me chamou a atenção. Um cidadão, escondido no perfil de uma banda chamada “Fases da Lua” protestou contra uma postagem sobre a ditadura, no Facebook.  O roqueiro quarentão defendeu os militares, atacou os gays e os comunistas. Essa história que não começou hoje e não terminará amanhã. Mas, a democracia é uma conquista. Derrotá-la seria consagrar a corrupção silenciosa dos tempos sombrios. Maluf é o maior símbolo da corrupção acobertada pelos militares. Se engana quem quiser. Nossas mazelas são históricas e foram consolidadas exatamente pelas ditaduras pelas quais passamos. Portanto, defender a ditadura como solução para os problemas brasileiros é um atestado de ignorância. Ponto final.

Este artigo será publicado no Jornal A União, no dia 14 de março. João Pessoa-PB.

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