domingo, 11 de março de 2012

Um corredor para a leitura.

por Lau Siqueira


No próximo dia 15 de março, quinta-feira, a partir das 08:30 estaremos inaugurando uma provocação. Sim, uma provocação. Afinal, consideramos o acesso ao livro o primeiro impedimento para a formação de leitores. A tarefa de desmistificar isso é a nossa provocação. O Corredor da Leitura é uma ação muito simples que acontecerá no corredor da Secretaria de Desenvolvimento Social do Município de João Pessoa - SEDES, localizada no Centro Administrativo Municipal. Todavia é imensa a vontade de, a partir desse Corredor da Leitura, articularmos outras ações de incentivo à leitura existentes na cidade ou noutras cidades. Sejam essas ações bibliotecas comunitárias, salas ou rodas de leitura. Pouco importa. Não estamos criando nada novo. Exceto pela sempre extraordinária vontade de contribuir para elevarmos o nível de leitura na cidade.

O Corredor da Leitura acontecerá da forma mais simples possível. Teremos uma estante num corredor onde circulam muitas pessoas. Sejam funcionários públicos ou usuários dos serviços da Prefeitura. Não haverá qualquer tipo de controle sobre a retirada, reposição ou mesmo doação de livros e revistas. Vamos trabalhar com princípios do engajamento social, da vontade coletiva, da solidariedade sem limites, da partilha como finalidade. A idéia central é que se perca mesmo o controle e o projeto passe a funcionar como uma “bisbilhoteca”, despertando nas pessoas a vontade de levar algo de qualidade para ler em casa. Claro que vai aí uma boa dose de utopia. Mas, o que seria da realidade se não fossem as utopias?

O custo desta ação não existe. Ou melhor: já existiu, mas não propriamente para ser incorporado na história do Corredor da Leitura. Vamos usar uma estante que já existia, feita pela Marcenaria Escola da SEDES. Não queremos ser um campo de desova de livros didáticos ultrapassados, riscados. Queremos trabalhar com bons livros que acabam guardados. A idéia é diminuir a distância entre o livro e as pessoas que por ali circulam. Funcionários e funcionárias ou não. Para tanto, temos contado com boas doações. Um acervo que já aponta para a criação de mais três bibliotecas somente na secretaria. Uma delas no Centro de Referência em Assistência Social que atende a população de rua – o CREAS – POP, outra no Centro de Formação Margarida Pereira da Silva, que atende crianças e adolescentes residentes em abrigos da Prefeitura e uma no Centro Intergeracional Sinhá Bandeira que fica localizado no bairro da Torre.

O Corredor da leitura, portanto, não nasce como um projeto isolado. Nasce vocacionado para uma articulação bem mais ampla que passará necessariamente por experiências referenciais como a Biblioteca Livro em Rodas, projetos como da Escola Viva Olho do Tempo, que pretende distribuir livros em uma carroça na comunidade rural de Gramame, em João Pessoa. Experiências como a da Casa Pequeno Davi, da Biblioteca Comunitária Cactus e outras tantas que surgem na cidade. Na articulação, a Assessoria Pedagógica da Fundação Cultural de João Pessoa, a assessoria de Literatura da Estação Ciência, as instituições interessadas e a assessoria para políticas de leitura da SEDES que ficarão sob o comando do poeta André Ricardo Aguiar e de Rosilene Santana que hoje coordena a Biblioteca Comunitária Antônio soares de Lima na comunidade Tito Silva. Experiências como o sarau Poesia no Hospício, dialogam diretamente com o Corredor da Leitura.

Portanto, provavelmente o que há de novo é a possibilidade de construção de uma política transversal que seja capaz de despertar o espírito crítico e o protagonismo no funcionalismo público e nos usuários das políticas públicas desenvolvidas pela Prefeitura Municipal de João Pessoa. A idéia é que os corredores se multipliquem para que possamos dar vasão às generosas doações de livros que temos recebido. Enfim, estamos prontos para iniciar uma ação que, temos certeza, cabe inteira dentro de qualquer política social, uma vez que desarma o primeiro inimigo da leitura que é o acesso ao livro. Queremos que o acesso ao livro seja pleno e no caso do projeto Corredor da Leitura - que deveremos desenvolver também em outros locais -, sem qualquer tipo de controle sobre a circulação. A idéia central é exatamente perder o controle sobre os livros. Afinal, temos repetido números que revelam uma das grandes contradições brasileiras. Estamos entre os dez países que mais produz livros no mundo. O MEC é o terceiro maior comprador de livros do mundo. Portanto, teremos acervo suficiente para fazer com que Machado de Assis seja mais conhecido de assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, artistas, vigilantes, moradores de rua, juízes, educadores, conselheiros de direitos, etc.

O Corredor da Leitura, na verdade, traz uma série de provocações. Uma delas é quanto aos recursos necessários para que o incentivo à leitura seja colocado em prática. Neste caso, o custo para os cofres públicos é zero. Outra provocação se refere ao desmascaramento das “conversas de corredor” que tantas vezes acabam causando abalos na tranquilidade dos mais frágeis. A mais importante, no entanto, se refere ao acesso ao conhecimento que, sabemos, não se resume à informações técnicas, mas principalmente ao que Roland Barthes já detectava na literatura: um instrumento de muitos saberes. Portanto, dia 15 as portas estarão abertas e os livros estarão disponíveis aos que acreditam que o conhecimento não pode ser propriedade privada de ninguém.

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