A cidade de João Pessoa mudou bastante na última década. Abandonou um
provincianismo servil para desvendar-se cosmopolita. E sem perder o charme! Os
espaços conservadores reduziram ou mostraram seu tamanho real. Os políticos que
alimentam o obscurantismo são figuras carimbadas. Nas últimas eleições a
ofensiva contra obras de arte revelou que a disputa real é de mentalidade e
visão de futuro. Por exemplo:
maranhistas e ciceristas tentaram atribuir ao adversário comum, Ricardo Coutinho, a “culpa” pelas
diversas obras de arte espalhadas pela capital. Deu tudo errado! Atestaram a
própria ignorância e um criminoso preconceito estético, racial e religioso. Chegaram
a responsabilizar Ricardo pelo “Porteiro
do Inferno” do paraibano Jackson Ribeiro. Ainda que a obra seja dos anos 70 e o
governador somente tenha começado sua vida pública nos anos 90.
Não foram poucas as manifestações públicas buscando
demonizar uma obra que é referência da arte de vanguarda brasileira. O Porteiro
do Inferno é uma obra abstrata. Não tem uma “mensagem” como insinuaram alguns cabos-eleitorais
de fôlego raso. A repercussão dos atos contra obras de arte, todavia, começou a
definir campos de disputa. A cidade reagiu e entrou no debate se expressando no
voto. O império das congregações
maranhistas e confrarias cicerianas ainda pulsam, mas diminuíram ostensivamente
de tamanho. Depois de sucessivas derrotas, pretendem mostrar que ainda dominam
politicamente a capital de um Estado que também
já perderam de vista.
Semana passada surgiu a notícia que um painel de
Flávio Tavares, instalado na fachada da antiga clínica São Camilo, seria
destruído. Naturalmente, pelas redes sociais, iniciou-se uma mobilização de artistas
e amantes da arte. A denúncia apontava que o Ministério Público Federal havia
comprado o prédio e o engenheiro responsável pela obra de adequação teria
sugerido a destruição do painel. Não era o MPF, mas a Defensoria Pública da
União. A partir de uma reação de artistas e intelectuais, o MPF recomendou a
preservação da obra de Flávio Tavares. Esse jogo de ação e reação nos mostra
que a cidade não parou no tempo. João Pessoa caminha em direção ao futuro. A
horda conservadora não mais representa a hegemonia política da cidade. Mas, “é
preciso estar atento e forte.” O Porteiro do Inferno existe, também para que os
demônios da ignorância não determinem os destinos do povo. Este ano, mais uma
vez João Pessoa deverá se expressar através do voto para determinar sua própria
capacidade de superação. A ignorância é uma arma de baixo calibre diante de um
povo que descobriu novos caminhos. No mais, “temos a arte para que a vida não
nos destrua.” Nietzsche está na boca do povo.
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