por Lau Siqueira
As histórias do Cangaço não são as mais elogiáveis.
Mas, também não diferem de histórias recentes. O que está posto é uma
sofisticação midiática separando o passado do futuro. Eram duros os tempos do
Cangaço. Extorsão, violência, corrupção e conluios políticos. Mas, por acaso
hoje é diferente? Mudaram os métodos, mas as práticas pouco foram alteradas. Há uma maquiagem modernizante encobrindo as
fissuras do tempo. O fato é que, inegavelmente, o mito do Cangaço existe e bate
com firmeza nas portas do futuro. São as memórias do medo e da sedução pulsando
na identidade Nordestina. Herança de um tempo onde a valentia, o heroísmo
popular e a indignação diante das injustiças era a moeda corrente. O Cangaço
cumpre um papel fundamental na compreensão da história do povo nordestino. Apesar
de tudo, as lutas sangrentas nas caatingas se mostram aos olhos do mundo
moderno esbanjando altivez.
A herança de Lampião, Corisco e outros personagens é
tão robusta que há um inegável receio - principalmente em rodas oficiais - de
mexer no vespeiro. Mas, talvez já seja tarde demais. Pesquisadores do Nordeste inteiro e mesmo de
outros rincões brasileiros já acenderam o estopim. O Grupo de Estudos “Cariri
Cangaço” é um bom exemplo. Pelo segundo ano consecutivo realizou o Seminário
Parahyba Cangaço. No final de agosto, pesquisadores e simpatizantes da causa
estiveram reunidos em Sousa, Nazarezinho e Lastro para debater o tema. O evento
foi mais uma provocação à história oficial e uma lição de coragem e lucidez
perpetrada pelo Cariri Cangaço e pelos militantes do Grupo Paraibano de Estudos
do Cangaço. Acontecimentos que pulsam tão fortemente quanto estes até podem e
devem ser questionados. Mas, não podem nem devem ser relegados ao esquecimento.
Principalmente pelo que representam em termos de perspectiva para um
desenvolvimento sustentável no Sertão da Paraíba.
Um exemplo muito claro da localização geográfica desta história é o Sitio Jacu, em Nazarezinho. Entre todas as moradas do Cangaço na Paraíba esta parece a mais estratégica. O lugar foi propriedade e morada do Coronel Chico Pereira e possui uma história que revela as razões dos confrontos do Cangaço com o sistema dominante na época. Todavia, enquanto se discute a viabilização do Memorial do Cangaço, o tempo passa e a degradação aumenta. Aquelas paredes crivadas de bala, sem dúvidas, atrairiam para o local uma legião apaixonada de turistas em substituição aos morcegos e ao esquecimento. Aliás, essa é a história contada pelos que sonham com um futuro de dignidade e respeito para o povo paraibano. Com a viabilidade do semiárido sustentada nos pilares da história e da cultura, o passado será a grande novidade.
O texto acima será publicado pelo Jornal A União, no próximo dia 05/11, página 2.
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