domingo, 15 de julho de 2018

CONVERSA DE AÇUDE



Algumas coisas aprendi na vida. Não tudo, lógico. Vivo aos pulos com meus tropeços. Aos sessenta e um anos ainda me amenino pro mundo. Continuo aprendendo. Todos os dias. Todos os instantes. Vejo a nuvem que passa transformando suas proprias formas. Dialogando com o vento. Sem que precise se ancorar em nada. Sem que sua existência seja uma escora. Aprendi a domar meus silêncios. Sim, tenho um silêncio seletivo. Só se mostra para quem o escuta. Não espalho o que me arrebata. Guardo as coisas sem prendê-las. O voo do pássaro, o canto das árvores. O ronco das abelhas. Se as perco, não lamento. Fico com a certeza do que colhi. Me alimento também das ausências. No mais, sou preso aos afetos que construí ao longo da vida. Os afetos que chegam, por favor, que batam na porta e respeitem o silêncio, a quietude que em mim tem traço de tempestade. O que nunca chegou, sempre passa. Vai sumindo, sumindo... até reinventar os mesmos caminhos e se perder novamente. Porque viver com intensidade é transgredir labirintos. E a saudade que mais dói é aquela que nunca foi e que nunca será.

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