por Lau Siqueira
A literatura contemporânea construiu elos através dos séculos e se fortalece com isso. A Poesia Visual que aparece como vanguarda no final do século XX, por exemplo, não era segredo para Simmias há dois mil anos, na Grécia. A Arte Literária é um desafio ao tempo. Através dos séculos promove releituras de cenários que evocam sua permanência. Assim, a leitura do excelente livro Microf(r)cções (Editora Multifoco-RJ, 2012) do escritor campinense Janailson Macedo Luiz, lembra naturalmente a releitura de Baudelaire em “Meu coração desnudado” (Mon coeur mis à nu) e “Rojões” (Fusées). Essas obras foram descobertas por um biógrafo de Baudelaire e se perderiam como anotações manuscritas e dispersas. Guardadas as proporções, fruto de processos semelhantes aos relatados por Janailson acerca do método de experimentação das suas micro-narrativas. Os textos deste “Microf(r)cções” alertam, também para as possibilidades e inquietações da chamada literatura digital. A maioria obedece rigorosamente o limite de 140 caracteres exigidos pelo Twitter. Mas, que literatura não é digital nos dias de hoje? Qualquer livro, antes de ser impresso, é transportado por e-mail ou pen-drive para a gráfica.
(esse texto será publicado no Jornal da Paraíba do próximo domingo)
A literatura contemporânea construiu elos através dos séculos e se fortalece com isso. A Poesia Visual que aparece como vanguarda no final do século XX, por exemplo, não era segredo para Simmias há dois mil anos, na Grécia. A Arte Literária é um desafio ao tempo. Através dos séculos promove releituras de cenários que evocam sua permanência. Assim, a leitura do excelente livro Microf(r)cções (Editora Multifoco-RJ, 2012) do escritor campinense Janailson Macedo Luiz, lembra naturalmente a releitura de Baudelaire em “Meu coração desnudado” (Mon coeur mis à nu) e “Rojões” (Fusées). Essas obras foram descobertas por um biógrafo de Baudelaire e se perderiam como anotações manuscritas e dispersas. Guardadas as proporções, fruto de processos semelhantes aos relatados por Janailson acerca do método de experimentação das suas micro-narrativas. Os textos deste “Microf(r)cções” alertam, também para as possibilidades e inquietações da chamada literatura digital. A maioria obedece rigorosamente o limite de 140 caracteres exigidos pelo Twitter. Mas, que literatura não é digital nos dias de hoje? Qualquer livro, antes de ser impresso, é transportado por e-mail ou pen-drive para a gráfica.
O cotidiano e suas cores, a sensualidade e a
pornografia, uma refinada ironia, a
crítica social aguda, o passeio pelo imaginário das fábulas e até mesmo um
indisfarçável olhar do historiador que é Janailson, estão presentes nesta obra
que exige atenção do público e da crítica. Narrativas com começo, meio e fim em
cinquenta caracteres e até menos, fazem de Microf(r)cções uma obra referencial
da Nova Literatura feita na terra de Augusto dos Anjos e José Lins do Rego. O
autor conhece a arte da esgrima literária. Surpreende com uma escrita madura,
ainda que produzida no auge da juventude.
“Quando a cigarra Inspiração vai vadiar e falta ao
serviço, a formiguinha Transpiração tem que trabalhar dobrado” (A Cigarra e a
Formiga, pg 26). Este ensaio mínimo é revelador da angústia presente na
metalurgia da palavra, ofício ao qual
escritores do mundo inteiro e em todos os tempos entregam suas vidas. Vale a
pena buscar no Google esse escritor paraibano e localizá-lo dentro dos focos mais
promissores da Literatura Brasileira deste início de milênio. Aos que asfixiam
o bom senso julgando a qualidade pela extensão do texto, o livro de Janailson
responde com o escalpo de uma
modernidade que se renova. Dialoga com
um futuro esvoaçante sem tirar os pés da boa literatura que justifica a tradição e os cânones. Ah, antes
que esqueça: “o desejo do impossível” é coisa de Roland Barthes. Aliás, uma das
melhores definições de literatura que conheço.
(esse texto será publicado no Jornal da Paraíba do próximo domingo)
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