Às vezes, criticamos de forma aguda o que existe e silenciamos diante das supressões, das omissões, dos apagões e do vazio. O Movimento Cultural pessoense se mostrou perplexo e inquieto diante de uma notícia sombria: este ano não haverá o Circuito Cultural das Praças. O desprezo foi tamanho que sequer anunciaram o fim de um projeto que há seis anos envolvia milhares de pessoas. É certo que havia a necessidade de muitos ajustes. Mas, haveremos de concordar que sua extinção pura e simples é um tiro no pé da política cultural da cidade.
O Circuito Cultural das Praças nasceu em 2006, no
Anfiteatro Lúcio Lins. Uma articulação da FUNJOPE com a comunidade artística
dos Bancários. Depois foi se espalhando na Praça do Coqueiral, na Praça Bela,
Praça do Caju... E funcionava como um respiradouro nas praças que estavam sendo
construídas e revitalizadas. Depois vieram bairros como Castelo, Gervásio,
Manaíra, Padre Zé, Cidade Verde... Eram
tantas as praças! Mas, a verdade é que o
Circuito cresceu e os problemas também. O primeiro deles foi a incapacidade de um
atendimento decente por parte das empresas prestadoras de serviço de
sonorização. Outro problema foi a perda do protagonismo das gestões culturais
comunitárias, com o lançamento de editais generalizantes. Optou-se pela
quantidade em detrimento da qualidade. Os editais não selecionavam, bastava uma
inscrição. Portanto, admitimos que ouve sim um refluxo e o impacto maior foi na
perda do diálogo comunitário.
Tudo poderia ser consertado. Tudo poderia ser
dialogado e reconstruído. A FUNJOPE ainda tentou uma saída na parceria com a
Secretaria de Desenvolvimento Social. Melhorou, mas ainda não ficou “no
grau”. Este ano, ficamos esperamos um
diálogo com a comunidade cultural para retomar o Circuito. Não rolou nada. Sem
qualquer justificativa oficial a circulação da produção cultural da cidade nas
praças, de setembro à março, foi suprimida. Não sabemos o motivo, mas os
jornais apontam para um déficit de 46 milhões na Prefeitura de João Pessoa.
Algo que preocupa, pois a FUNJOPE acaba de lançar um edital de R$ 1 milhão para
a área do áudio-visual e anunciar uma versão paraibana da Virada Cultural
paulista. Não sabemos se haverá recursos para pagar despesas que não estavam
previstas na Lei Orçamentária, mas as praças já foram caladas.
Esperamos que o vazio criado com a extinção do CCP
não seja tão danoso para a democratização desses espaços públicos. A cidade que
queremos ainda é aquela onde as pessoas silenciavam, mas para ouvir um solo de
tímpano, um babau, uma tribo, um rock, ou a Orquestra de Violões tocando Vila
Lobos. João Pessoa é uma cidade que aprendeu a ouvir e gosta de ser ouvida.
Publicado na edição de hoje do Jornal da Paraíba.
Publicado na edição de hoje do Jornal da Paraíba.
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