As tragédias cumprem um papel determinante no destino dos povos. Na Paraíba nunca foi diferente. Afinal, foi uma tragédia que determinou o nome atual da capital João Pessoa. Alguns acontecimentos vão se distanciando, caminhando para o esquecimento, mas, jamais ficarão impunes diante da história. Os fatos ocorridos do dia 25 de agosto de 1975 (Dia do Soldado) na Lagoa do Parque Solon de Lucena exigiam um relato de fôlego há 36 anos. Foram trinta e cinco mortos. Entre os quais vinte e nove crianças. No triste cenário, uma embarcação do Exército Brasileiro que afundou nas águas da nossa Lagoa. O livro “Opus Diaboli – A Lagoa e outras tragédias”, do jornalista e escritor paraibano Gilvan de Brito busca mover o moinho do tempo com esta e outras águas passadas.
Os militares que governavam o país com mão de ferro foram
os protagonistas desta tragédia anunciada. A irresponsabilidade esteve no
comando do triste espetáculo. Mais de cento e cinquenta pessoas equilibravam-se
numa embarcação com capacidade para pouco mais de sessenta pessoas sentadas. Gilvan
de Brito estava lá quando tudo aconteceu e até fez a cobertura jornalística. Com
sua larga experiência de redação e reconhecido
talento de escritor e dramaturgo, soube como ninguém registrar neste livro um
fato que se tornou inesquecível para os pessoenses.
Em “Opus Diaboli – A Lagoa e outras tragédias” Gilvan estabeleceu um marco
simbólico. Apenas este resgate já teria um imenso valor histórico e
literário. Todavia, o espírito inquieto e investigativo do autor foi buscar a
demarcação de outras tristezas. O primeiro registro foi em 1501, quando Américo
Vespúcio narrou a antropofagia cometida pelos índios de Baía da Traição contra
três marinheiros. A chacina dos 600 habitantes de Tracunharém pelos índios potiguaras
também faz parte de uma coletânea de fatos que sangraram a história desta Paraíba
velha de guerra.
Publicado com recursos do Fundo Municipal de Cultura
– FMC, o livro de Gilvan é marcado por um diálogo denso entre a percepção aguda
do repórter e a magia criadora do escritor. É desta forma que o pulsar da
história nos arrasta página por página. Como bem diz o jornalista Jackson
Bandeira no posfácio da obra, “sem este livro estaria faltando alguma coisa na
historiografia paraibana”. Essa capacidade de conjugar o melhor jornalismo com o talento literário reafirma o
escritor de Opus Diaboli na galeria dos autores paraibanos imprescindíveis.
Aqueles que traduzem a pulsação das ruas e as razões do que nem sempre
interessa como notícia. Até mesmo a agonia dos que perderam entes queridos
naquela tarde sorumbática foi lembrada neste relâmpago da memória. Enfim, um
livro que vale a pena ser lido.
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