sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A Obra Aberta de Fred Svendsen.

Observador da cidade e suas artes, confesso que fui fisgado pela inquietude criativa de Fred Svendsen e sua Baleia. Uma obra em exposição permanente na Estação das Artes. Um monumento com seis toneladas de ferro carbono dialogando com a natureza, numa fração mínima da Mata Atlântica. Signo de um tempo em que a devastação relata os caminhos da civilização. Algo pesado flutuando nos oceanos e refletindo um tempo onde o que prevalece é a velocidade.
Não há quem não tenha sido tragado pelo próprio olhar diante de “A Baleia”, um  monumento às artes e à preservação das espécies. Na verdade, Fred Svendsen criou mais que uma escultura colossal. Criou um enigma na Ponta do Cabo Branco. Um imponente portal para a Estação das Artes. Um sinal luminoso da inquietude de um artista que conjuga muitas linguagens na construção de um estilo singular. “A Baleia” revela-se de forma aguda enquanto força e movimento. É, certamente, um fato desafiador para uma obra de arte: mostrar a capacidade humana de repartir olhares sobre a mesma matéria.

Fui buscar em Umberto Eco as soluções para o meu espanto. Compreendi então, o quanto Fred Svendsen radicalizou, operando uma viagem de extremos. Por exemplo, do expressionismo ao impressionismo. Um segredo revelado na convulsão do amarelo, com as tonalidades do ambiente. Tudo a partir do impacto das mutações da luz solar. Pela conversação com o entorno e pela prosa fácil com a condição humana. Creio que se trata do que Umberto Eco classifica de “Obra Aberta nas artes plásticas”: “um campo de possibilidades interpretativas, como configuração de estímulos dotados de uma substancial indeterminação, de maneira à induzir o fruidor a uma série de leituras sempre variáveis”. Enfim, parece que não é imperativo o desvendamento  deste enigma, mas sim o  seu reconhecimento. O ápice da  expressão de um artista que bebe nas melhores águas da arte e  noutras formas de conhecimento.
Fred Svendsen realiza uma travessia com todos os seus acúmulos e com suas infinitas  possibilidades. Coisa de artista que passeia com maestria pela pintura, pela escultura, pelo design outras linguagens. Consagrado pela crítica e pelo público brasileiro, com várias incursões no exterior, Fred  gestou esta obra numa conversa de pássaros. Fosse poeta, “A Baleia” seria apresentada como suas “Obras Completas”. Eis um monumento que parte de  uma relação densa com sua aldeia e universaliza-se aos olhos do mundo que transita no Extremo Oriental. A Baleia é um grito e ao mesmo tempo um profundo silêncio diante de uma falésia que se revela no que “duas vezes não se faz”, como diria Hermano José. Sobretudo,  podemos afirmar que esta obra é um processo.

Texto a ser publicado no Jornal da Paraíba, dia 02/12/2012

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