Algumas ações importantes, principalmente em cidades como
Sapé, Boqueirão, Nova Palmeira, Conde, Campina Grande, Lucena e João Pessoa
revelam que o incentivo à leitura é uma paixão. Mas, uma paixão que só se
revela completamente quando compartilhada. Não falo de ações desenvolvidas em
escolas, apenas. O seminário Leitura na Rede já chegou à terceira edição e é
desenvolvido por ONGs. A dimensão do evento é reveladora de uma atividade
cotidiana muito bem sucedida em instituições como Apoitchá, Beira da Linha,
Piollin, Olho do Tempo, ARCA e Casa Pequeno Davi. Portanto há um campo fértil
para que iniciativas semelhantes comecem a deslanchar, tanto no âmbito das
instituições públicas (escolas, Creches, Programas sociais) quanto na sociedade
civil (sindicatos, ONGs, associações de bairro, etc).
Sapé é uma cidade especialíssima para a revitalização do
projeto Corredor da Leitura. Afinal é a terra do grande poeta brasileiro
Augusto dos Anjos. Não bastasse esse bom motivo é a cidade onde uma geração de
jovens educadores desenvolve um programa escolar de incentivo à leitura que
merece atenção da sociedade de um modo geral, mas principalmente do Governo do
Estado. Falamos do PILE – Programa de Incentivo à Leitura na Escola, desenvolvido
na Escola Estadual Gentil Lins. Um fator de integração da comunidade escolar,
com repercussões extremamente positivas no cotidiano da escola. Por exemplo, a
erradicação da violência na escola.
O Corredor da Leitura não chega para competir, mas para
somar. Trata-se de um programa muito simples. Ao cria-lo, partimos de alguns
fatores. O Brasil está entre os dez maiores produtores de livros do mundo e o
MEC é o terceiro maior comprador de livros do mundo. Portanto, não temos
dúvidas quanto à existência de livros para projetos semelhantes. Os índices de
analfabetismo funcional encontrados até mesmo nas universidades são
preocupantes. Infelizmente, desde a ditadura, existe uma negligência quanto a qualidade
da leitura. Isso se reflete diretamente na capacidade para a interpretação do
texto e no diálogo com a subjetividade
do texto. Algo que é muito particular. Pela análise das poucas experiências
existentes, a alfabetização formal pode receber uma injeção de ânimo a partir
da presença da leitura no PPP (Projeto Político Pedagógico) da
escola. A escola brasileira com melhor nota no IDEB está localizada em Itaú de
Minas. A sustentação do seu planejamento pedagógico está num programa de incentivo à leitura. Não é coincidência.
As escolas que incentivam à leitura estão na frente e os maiores beneficiados
são os filhos do povo. A experiência da Escola Estadual Gentil Lins
é apenas mais um bom exemplo.
Em Sapé o Corredor da Leitura acontecerá da mesma forma
que aconteceu no corredor principal da Secretaria de Desenvolvimento Social –
SEDES, de João Pessoa. Uma estante doada. Livros doados. Pessoas atentas à
importância da leitura, sempre por perto. Não há qualquer tipo de controle. Os
livros são disponibilizados livremente para que os leitores possam acessá-los,
trocá-los, fazer doações, realizar novas campanhas e lançar novas formas,
outros modos de incentivo ao hábito da leitura solidária e da cidadania. Ou
seja, não importa o projeto em si, mas o objetivo da ação que ele propõe. Não
há propriedade nem se pretende uma patente. Qualquer pessoa pode conduzir algo
semelhante numa associação de bairro, num sindicato, numa Igreja. Enfim, trata-se
de uma ação cuja necessidade única de diálogo com as demais ações educativas é totalmente
libertária.
A nova fase do Corredor da Leitura será lançada com um
sarau específico. Leituras de poemas do grande poeta Augusto dos Anjos, no
próximo dia 20, às 17:30h, no Centro Social Urbano de Sapé. Um equipamento da
Secretaria de Desenvolvimento Humano do Estado da Paraíba. Enfim, esta é apenas
mais uma boa ideia para ser compartilhada. Será bom recomeço e uma lição aberta
às tantas portas fechadas que vemos no setor público e fora dele. O Corredor da
Leitura não é uma biblioteca, mas uma bisbilhoteca. A comunidade de Sapé sempre
surpreende e, certamente, nos mostra que é possível ousar mais e ir mais longe.
Iremos buscar esses caminhos. Afinal, como dizia Roland Barthes, a Literatura
contém muitos saberes.
Texto escrito para minha coluna no portal Paraíba Já, www.paraibaja.com.br
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