por Lau Siqueira
Quem já visitou a
cidade de Sapé - berço das Ligas Camponesas e das lutas por Reforma Agrária – percebeu
a representatividade do nome de Augusto dos Anjos. Natural daquele município,
mais precisamente do Engenho Pau D’Arco, o poeta está presente na praça, no
Centro Social Urbano, na cantoria dos violeiros e principalmente no
indisfarçável orgulho do povo sapeense. Afinal, não é pouca coisa residir na
terra natal de um dos ícones da Poesia de Língua Portuguesa. Todavia, alguma coisa
ainda está fora da ordem. Por exemplo, não fosse a sensibilidade e o “interesse
pessoal” de um grande intelectual paraibano chamado Odilon Ribeiro Coutinho,
sequer o velho tamarindeiro existiria. Mesmo sendo ancoradouro da infância e inspirador de alguns
dos mais populares versos deste poeta que foi eleito o “Paraibano do Século XX”.
Com aproximadamente 300 anos esta árvore já estava condenada, mas resiste por
ter sido tratada a tempo.
Atualmente, para chegar
ao famoso tamarindeiro é um transtorno. Procura-se uma chave não sei onde,
atravessa-se um quintal de não sei quem - esquivando-se dos cães - para então
usufruir da magia frondosa de uma das árvores mais famosas do mundo. Semelhante
é o abandono do lago que banhou a infância e juventude do poeta. Hoje, apenas
um refúgio assoreado de ressecadas lembranças. Afora isto, sobraram as ruínas
da Usina Santa Helena e o Memorial Augusto dos Anjos. Este sim, um prédio
restaurado e com algum acervo. Poucos mas, atentos e atenciosos funcionários.
Um patrimônio restituindo à história, a antiga casa de Guilhermina - “mãe de
leite do poeta”. Em frente à Usina Santa Helena, pouco conservada, temos a
capela onde o poeta foi batizado. Um patrimônio considerável e que pede
atenção. Há um grito no ar repercutido por alguns poucos sonhadores, como
Carlos Aranha, Jairo Cezar e Chico Viana.
Em torno da memória de
Augusto dos Anjos, Sapé poderia estar desfrutando de uma fatia generosa da sua
economia da cultura. Logicamente que seria necessário um olhar mais atento dos governos
e da iniciativa privada. Algo que transcenda o simples aporte de recursos financeiros.
São urgentes algumas ações criativas para a valorização dos produtos com a
marca registrada do poeta. Sejam licores ou sucos de tamarindo. Seja na valorização
do patrimônio artístico e do artesanato. Sapé é uma cidade de muitos artistas.
Possui uma cultura forte, amparada nos versos pré-modernistas de Augusto. A
cidade respira as lutas e a cultura do seu povo. Riquezas que jamais poderão ser
negligenciadas pelos roteiros turísticos. Falta muito pouco para que este
município descubra sua melhor vocação e transborde para o mundo. Não há nenhum
segredo nisso.
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