por Lau Siqueira
O conceito de cultura é dos mais amplos. Quase tudo
é cultura. Alguns pensam que cultura
é coisa nenhuma. Coisa de artista. Delírio intelectual de pesquisadores. Todavia,
esses não são os piores. Existem os que pensam que cultura é qualquer coisa.
Esses é que são perigosos. São os que bancam as apelações e as aberrações
estéticas e éticas da mídia dominante. Mas, quando o cenário é de retrocesso, o
palco é de resistência. Por isso são vivas e vibrantes as palavras de Alceu
Valença: “a maneira mais fácil de dominar um povo – e a mais sórdida também – é
despi-lo de sua cultura natural, daquilo que o identifica enquanto um
grupamento social homogênio, com linguagens e referências próprias.”
Com a eleição de Lula a cultura passou a arejar os
gabinetes mofados de Brasília. As diretrizes ficaram mais animadoras. Era
nítida a ampliação de uma geografia de investimentos historicamente reduzida ao Rio e Sampa. O
ministro Gilberto Gil chegou a Brasília junto com as comunidades tradicionais. Os
povos indígenas, quilombolas e ciganos
enfim, ganharam visibilidade. Elegemos
Dilma com esperança de avançar ainda mais. Todavia, até agora só colecionamos
desastres. Passamos por Ana de Holanda com o reconhecimento de um grande
equívoco. Mas, a emenda ficou pior que o soneto: Martha Suplicy conseguiu a
superação indesejada. No discurso de abertura da III Conferência Nacional de
Cultura a ministra revelou que com o Vale-Cultura seria possível, por exemplo, “comprar revista erótica”. Causou um estarrecimento geral na plenária. Mas,
a “irreverência” da ministra parece que repercutiu nas estratégias locais do
PT. Não há mais qualquer constrangimento em liberar a pedagogia do rebolado, com
todos os seus efeitos colaterais: a erotização da infância, a banalização da
mulher, a apologia às drogas legais, a homofobia, o racismo, etc. Uma verdadeira
condenação da identidade e da diversidade cultural em nome de um “gosto popular” determinado
pelo jabá. Um esquema de muita grana para uma viagem “da lama ao caos”.
Para se ter uma ideia do retrocesso, aqui em João
Pessoa Cícero Lucena (PSDB) prometeu
retomar as contratações das “bandas de plástico”, caso vencesse as eleições em
2012, mas perdeu. Entretanto, a escolha de Aviões do Forró para o carnaval do Picolé
de Manga, bloco do prefeito Cartaxo, mostra o quanto foram enganados os
militantes culturais que votaram no PT para derrotar
as pretensões do tucano. Mas, enfim. Parece que a cidade já acordou e
começa a reagir. Ainda bem. (Dedico este
artigo à memória do Mestre João do Boi)
Publicado no Jornal A União, 07.02.14
Um comentário:
Respeito sempre sua opinião. E concordo com ela. O governo Dilma tem sido decepcionante em vários aspectos e particularmente a atuação na cultura tem sido muito fraca.
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