segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Cultura não é qualquer coisa

por Lau Siqueira


O conceito de cultura é dos mais amplos. Quase tudo é cultura. Alguns pensam que cultura é coisa nenhuma. Coisa de artista. Delírio intelectual de pesquisadores. Todavia, esses não são os piores. Existem os que pensam que cultura é qualquer coisa. Esses é que são perigosos. São os que bancam as apelações e as aberrações estéticas e éticas da mídia dominante. Mas, quando o cenário é de retrocesso, o palco é de resistência. Por isso são vivas e vibrantes as palavras de Alceu Valença: “a maneira mais fácil de dominar um povo – e a mais sórdida também – é despi-lo de sua cultura natural, daquilo que o identifica enquanto um grupamento social homogênio, com linguagens e referências próprias.”
Com a eleição de Lula a cultura passou a arejar os gabinetes mofados de Brasília. As diretrizes ficaram mais animadoras. Era nítida a ampliação de uma geografia de investimentos  historicamente reduzida ao Rio e Sampa. O ministro Gilberto Gil chegou a Brasília junto com as comunidades tradicionais. Os povos indígenas,  quilombolas e ciganos enfim, ganharam visibilidade.  Elegemos Dilma com esperança de avançar ainda mais. Todavia, até agora só colecionamos desastres. Passamos por Ana de Holanda com o reconhecimento de um grande equívoco. Mas, a emenda ficou pior que o soneto: Martha Suplicy conseguiu a superação indesejada. No discurso de abertura da III Conferência Nacional de Cultura a ministra revelou que com o Vale-Cultura seria possível, por exemplo,  “comprar revista erótica”.  Causou um estarrecimento geral na plenária. Mas, a “irreverência” da ministra parece que repercutiu nas estratégias locais do PT. Não há mais qualquer constrangimento em liberar a pedagogia do rebolado, com todos os seus efeitos colaterais: a erotização da infância, a banalização da mulher, a apologia às drogas legais, a homofobia, o racismo, etc. Uma verdadeira condenação da identidade e da diversidade cultural  em nome de um “gosto popular” determinado pelo jabá. Um esquema de muita grana para uma viagem “da lama ao caos”.
Para se ter uma ideia do retrocesso, aqui em João Pessoa  Cícero Lucena (PSDB) prometeu retomar as contratações das “bandas de plástico”, caso vencesse as eleições em 2012, mas perdeu. Entretanto, a escolha de Aviões do Forró para o carnaval do Picolé de Manga, bloco do prefeito Cartaxo, mostra o quanto foram enganados os militantes culturais que votaram no PT  para derrotar  as pretensões do tucano. Mas, enfim. Parece que a cidade já acordou e começa a reagir. Ainda bem. (Dedico este artigo à memória do Mestre João do Boi)

Publicado no Jornal A União, 07.02.14


Um comentário:

Paulodaluzmoreira disse...

Respeito sempre sua opinião. E concordo com ela. O governo Dilma tem sido decepcionante em vários aspectos e particularmente a atuação na cultura tem sido muito fraca.

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