quarta-feira, 16 de abril de 2014

O VERSO REVERSO DE CRISTINA CARVALHO

Por Lau Siqueira


O livro “Verso Reverso” da artista visual pessoense Cristina Carvalho traz boas revelações. Seus mergulhos lembram  Fayga Ostrower: “criar é um processo existencial”.  Cada página é pura pulsação. Pura floração humana. Seja pela delicadeza das formas ou pela proposta de  devolver objetos ao cotidiano, a partir de uma intevenção densa e suave. São laços de cetim transformando em arte a banalidade utilitária de frascos e caixas. São traços, cores e formas. Contrastes de sombra e luz  sobre o corpo da artista. Na verdade, o verso e o reverso de uma alma fêmea com suas  angústias e transbordamentos. Os enfrentamentos da sensualidade nos esgarçamento de um silêncio ao mesmo tempo ostensivo e pouco revelado.

Provocando infinitas leituras, o livro nos remete também ao pensamento de J. P. Sartre: “a imagem é uma coisa corporal, é o produto da ação dos corpos exteriores sobre nosso próprio corpo por intermédio dos sentidos e dos nervos.” O livro revela uma trama conceitual onde a artista diviniza a devassidão do corpo, a imaginação feminina em todos os vértices. Um despojamento eternizado num tempo de múltiplas velocidades. O efêmero e o eterno dialogam no mesmo templo. Como se cada instante fosse um esteio de movimentos inuitivos. Nada mais contemporâneo, aliás. Um livro que demonstra infinitudes e proporciona inquietações. Um lugar estético onde a cor predominante é a mais rubra, a mais viva, a mais intensa.

Utilizando linguagens conceituais, a artista navega livremente na elaboração de uma unidade para sua obra. Seus desenhos, suas instalações e suas performances estão eternizadas neste livro. Na fragmentação comum desses tempos modernos, o reverso do sim e do não. Tudo é linguagem. Tudo é expressão. Cristina é uma artista que transgride seus próprios caminhos na busca do que impacta pela delicadeza, pela intensidade e pela capacidade de dialogar com os sentidos. Em tudo há uma elaboração cuidadosa, para um tipo de comunhão que Ibsen chamaria de “acordo entre o conteúdo e a forma”.

Graduada em Arquitetura e Artes  Visuais, pela Universidade Federal da Paraíba, Cristina atualmente leciona no Campus IV da Universidade Estadual da Paraíba, em Catolé do Rocha. Apesar de ainda jovem, possui uma respeitável “folha corrida” de exposições individuais e coletivas. Dos nomes da nova geração,  aparece entre os mais consolidados para um cenário paraibano que dialoga com o mundo. Ela amplia horizontes compartilhando sua experiência estética e existencial, despertando os olhares mais atentos do público e da crítica. Seu livro, publicado pelo FMC, pode ser encontrado na Usina Cultural Energisa, ou com a autora (cristinacarvalho.art@gmail.com).



PS. O texto acima estará publicado no Jornal A União do dia 18.04.14 - João Pessoa.

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