quinta-feira, 12 de junho de 2014

O ÚLTIMO VOO DE MANOEL MONTEIRO

Por Lau Siqueira


A morte não é uma escolha. Nem mesmo a vida é uma escolha. Simplesmente nascemos. Simplesmente morremos. Temos prazo de validade. Entre o nascimento e a morte escrevemos nossa história. Entre alegrias e tristezas, cada um segue seu caminho. O fato é que a vida e a morte são absolutas. São certezas inexplicáveis. No mais, somos seres feitos de afeto. Por isso sentimos tanto algumas perdas. Por isso também tantas outras nos são indiferentes. Há os que escrevem páginas de sangue. Mas, sobretudo há aqueles iluminados que surgem vestidos de magia. Os que viajam no voo das  palavras. Nas cores e no cheiro de amor que espalham pelas estradas. Há os que comovem até pelo silêncio. Este foi o caso do poeta Manoel Monteiro. Passou a vida inteira comovendo com seus versos. Partiu despido de obrigações carnais, vestido de poesia. Vestiu suas asas de águia e escolheu seu último pouso.

Manoel Monteiro saiu de casa bem cedo naquela manhã. Poucos o avistaram. Ninguém sabia que, por pulsação e coragem, estava levando a morte para longe de casa. Amava tanto os seus que preferiu esconder sua última agonia. E foi voando, feito um passarinho. Foi para bem longe. Voou o mais alto que pode. Então, despediu-se da vida com a mesma dignidade que viveu. Não vamos cobrar qualquer explicação do poeta. Ele apenas decidiu voar sobre os abismos e se abrigar na eternidade. Vamos respeitar sua vontade. Vamos compreender que a sua imortalidade começa agora. Sua obra é sua eternidade desde que saiu da casa do pai, sustentado nas asas do cordel. Sua contribuição à Poesia foi elevar a Literatura de Cordel até o grau máximo. Até o reconhecimento da sua erudição. Foi reconhecido pela crítica como o maior cordelista contemporâneo. Nosso poeta viajou e deixou a bagagem. Deixou uma herança de bons frutos para serem colhidos e semeados pelas futuras gerações.


Soube pelas redes sociais a notícia da sua partida. Através do poeta e amigo Aderaldo Luciano, aliás, outro mestre. Pelas redes sociais também, acompanhei a tristeza da família. No fundo, todos sabiam que sua viagem era a derradeira. Este fato revelou outra face do poeta. Manoel Monteiro era um homem amoroso. Viveu e morreu cercado pelo amor da família. Deve ter viajado feliz. Ciente de sua missão cumprida. Além de grande poeta, era um cidadão exemplar. Um intelectual matuto ou um matuto intelectual. Presença obrigatória nos melhores festivais de literatura do país. Foi um grande difusor do Cordel,  gênero que é estudado pelas universidades francesas como Literatura Popular Universal. Para Manoel Monteiro, ser cordelista era sonhar. Então, vamos somar nossas vontades para que o sonho do poeta não morra nunca.

Nenhum comentário:

NOVO É O ANO, MAS O TEMPO É ANTIGO

Não há o que dizer sobre o ano que chega. Tem fogos no reveillon. A maioria estará de branco. Eu nem vou ver os fogos e nem estarei de b...