por Lau Siqueira
Texto que será publicado na página 2 do Jornal A União da próxima sexta.
Natural de Conceição,
cidade do Vale do Piancó, o Maestro José Siqueira está na memória de poucos
aqui na Paraíba. Nenhuma surpresa quanto a isto. Afinal, parece que nos dias de
hoje a mídia ensina mais que a escola. A juventude está alheia a Pedro Américo,
José Lins do Rego, Sivuca, Jackson do Pandeiro, mas conhece muito bem Aviões do
forró e Garota Safada. Aqui e ali tentam amenizar o impacto dessa avalanche midiática. Tentam até justificá-la.
Mas, se trata de um talho profundo na diversidade cultural do planeta. A
verdade é que estamos forjando o futuro na base do volúvel, da diluição dos
valores históricos, culturais, artísticos. A banalidade vai tomando conta dos
nossos dias e muitas vezes até nos sentimos impotentes diante dela. A indústria
do entretenimento concentra e dilui a economia da cultura. Algo que já passa de
5% do Produto Interno Bruto Brasileiro fomentado, muitas vezes, por recurso
público.
A ampla reforma do
Espaço Cultural José Lins do Rego oferece a oportunidade reativarmos a memória
do Maestro José Siqueira. Ainda que na
mesma instituição já exista um centro de pesquisas com seu nome. Porém, a
dimensão da vida e obra do grande
Maestro paraibano exigem a ampliação do nosso reconhecimento. José Siqueira,
seguramente, foi uma das figuras mais relevantes do ambiente cultural
brasileiro no Século XX. Tão importante quanto Heitor Villa-Lobos. Regente e
compositor de prestígio internacional. Regeu orquestras na França, nos Estados
Unidos, na Bélgica, em Portugal, na Russia e em outros países de grande tradição
musical. Fundou a Orquestra Sinfônica Brasileira, Orquestra de Câmara
Brasileira, a Orquestra Sinfônica da Rádio MEC e viabilizou junto ao então
prefeito Miguel Arraes, a Orquestra Sinfônica de Recife, a mais antiga do país.
Entre outras instituições, fundou a Ordem dos Músicos do Brasil.
No entanto o que mais encanta é sua obra. Quem
escuta “Suíte Sertaneja”, uma peça magnífica para flauta e piano que junta o
Baião, o Aboio e o Coco de Engenho, sabe. São sonoridades colhidas com imensa
sensibilidade entre os currais de Conceição e as partituras mais complexas da
música do mundo. Uma obra viva. Uma invenção erudita da musicalidade
sertaneja. Uma Suíte que, certamente,
nasceu para compor a magnífica história da música universal. Um encontro com o
sublime. Ou “II Sonata para violino e piano”,
digna, também, das melhores salas de concerto. Mas, a vida segue em
frente. Nunca é tarde para exercitarmos a memória coletiva. A história da arte
no Brasil tem em José Siqueira um capítulo importante. Algo que foi
criminosamente suprimido da memória do povo brasileiro pelo regime militar que
se instalou em 64.
Texto que será publicado na página 2 do Jornal A União da próxima sexta.
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