quinta-feira, 31 de julho de 2014

PARA QUE SERVEM AS BIBLIOTECAS?

Por Lau Siqueira


Apesar do crescimento das ações direcionadas ao livro, leitura e bibliotecas nos últimos anos, o Brasil ainda possui  um débito enorme na formação de leitores. O impacto pode ser observado na qualidade do ensino. Principalmente quanto ao “analfabetismo funcional” que frequenta algumas universidades e expõe a necessidade urgente de mais investimentos no setor. O fato é que não temos uma tradição de bibliotecas em nosso país. Tanto que João Pessoa, capital da Paraíba, ainda não possui uma biblioteca pública municipal. Pior que isso: não possui uma demanda. A população não pauta a necessidade desse equipamento. As bibliotecas deveriam ser o principal centro de formação cidadã. Mas, não é isso que se vê. Algumas situações, inclusive, revelam a gravidade do problema. A biblioteca de Malta, no Sertão da Paraíba, por exemplo, virou banheiro público. Outras tantas não passam de depósitos de livros. A mais importante Biblioteca da Paraíba, a Juarez Gama, se tornou um local específico para pessoas que estudam para concurso. Todavia, se esta é sua maior demanda, certamente, não  pode ser sua única função.

O distanciamento entre a maioria das bibliotecas e o público leitor é alguma coisa espantosa e é muito fácil explicar. Afinal, as bibliotecas deveriam existir a partir de uma demanda: a popularização do hábito da leitura. Deveriam surgir a partir da ampliação das necessidades do público leitor. Algo que poderia ser natural em um país que é um dos maiores fabricantes e compradores de livros do mundo. Essa deficiência na formação do leitor, especialmente do leitor lúdico é, provavelmente, o maior abismo entre as bibliotecas e as escolas públicas. Sejam elas bibliotecas públicas, escolares ou comunitárias. Há um sentimento patrimonialista sobre o livro. Mesmo que, em geral,  todo livro acabe relegado após ser lido. Há um inexplicável sentimento de posse sobre o objeto quando o que importa é o conteúdo.


Mesmo assim é possível perceber que estamos caminhando. Em algumas escolas as políticas de incentivo à leitura já são uma realidade. Não é por acaso que essas são as que possuem o IDEB mais elevado. As conferências de cultura, cada vez mais, se deparam com as demandas do livro e da leitura. Militantes apaixonados no país inteiro nos fazem acreditar que estamos vivendo momentos transformadores. Mas se iremos lidar com isso dentro de um sistema, precisamos entender o que as aranhas já sabem. Um sistema é uma teia, ligando e religando circunstâncias num objetivo que é único: alimentar a cidadania através da mais ajustada ponte de acesso ao único meio de combater as desigualdades: a democratização do conhecimento. 


COLUNA DO JORNAL A UNIÃO - para publicação em 01/08/2014,

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