quarta-feira, 13 de agosto de 2014

UMA NOVA ORDEM FORA DA ORDEM

Por Lau Siqueira


Quando o show de Criolo foi anunciado na programação de reabertura do Espaço Cultural da Paraíba, não faltou quem desdenhasse. “Ninguém conhece”, diziam alguns. “Vai ser um fiasco”, diziam os mais exaltados. Mas, esses mesmos críticos, quando viram aquela multidão alegre, na maior paz, curtindo o show, se renderam. Compreenderam que existe uma nova ordem fora da ordem. Em 2006, quando a FUNJOPE  lançou em Mangabeira o projeto Estação Nordeste, também houve quem desdenhasse. Afinal, eram 6 bandas do próprio bairro. A crítica local, no entanto, reconheceu o sucesso do empreendimento devido à multidão que se aglomerava em frente ao Mercado de Mangabeira. No palco bandas do bairro, como Mobiê, Realidade Crua e uma multidão cantando as músicas do SDS.

É certo que não há reconhecimento dessa resistência permanente. Mas, ela existe. Não foi diferente a história de Augusto dos Anjos. Um poeta que desafiou as possibilidades. Primeiro da linguagem. Depois, da província. Ainda que os traçados locais não fossem os mais favoráveis. Também o Hip-Hop brasileiro evoluiu e não esperou pela indústria para criar seus próprios fenômenos. Em todas as suas linguagens: no RAP, no grafite, na dança de rua e na discotecagem, naturalmente, foram brotando fenômenos. No grafite, por exemplo, temos nomes como Shiko e Giga Brown. Artistas que estão impondo pela arte os sabores das quebradas. Shiko, inclusive, já se destacando nacional e internacionalmente. Alex, da Nação Hip-Hop, de Campina Grande, demonstra expressividade na força da palavra. Afronordestinas deixou sua marca em importantes festivais brasileiros. Dumato e Camila Rocha, SH, TioDall  e outros tantos vão se firmando numa cena que, cada vez mais, busca a profissionalização e firma-se no discurso dos direitos humanos e sociais.


Na dança de rua, o  nome de Vant já é um clássico. Na discotecagem, a incrível DJ kilt vai brilhando entre os marmanjos. Mas, em conversas com o mano Pablo Scobá descobri que o Hip-Hop, hoje, trabalha ainda com um quinto elemento: o conhecimento. Nascido da exclusão social e da resistência política, o Hip-Hop já sofreu todo tipo de preconceito. Seja por abarcar uma maioria pobre e negra. Seja por trabalhar a estética da realidade cotidiana. Mas, foi a partir desses desfavorecimentos contemporâneos, da exclusão e da fratura exposta da violência da burguesia brasileira que eles emergiram e dizem a todo instante que estão nas ruas, mas são capazes de dominar os melhores palcos e galerias. Essa onda há muito já bateu na praia. Quem não quiser se afogar, que pule sete vezes. (O artigo de hoje é dedicado ao grande mestre do Hip-Hop, Cassiano Pedra)

artigo para minha coluna do Jornal A União da próxima sexta.

2 comentários:

Unknown disse...

Salve
Lau o que dizer quando já se disse tudo só que continue nos iluminando
com a suas palavras e poesias um grande abraço da familia hip-hop.

Unknown disse...

PARABÉNS GRANDE MESTRE LAU SIQUEIRA POR ESTAS PALAVRAS VERDADEIRAS E POR ESTA VISÃO PERFEITA E REALISTA DA CULTURA HIP HOP NA PARAÍBA.

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