quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A tristeza como espetáculo midiático

Por Lau Siqueira


Depois que uma adolescente foi assassinada por outro adolescente numa sala de aula da Escola Violeta Formiga em Mandacaru, começou um atabalhoado debate popular sobre a segurança na escola, a redução da maioridade penal (mais uma vez sob os mantos da emoção), os culpados subjetivos, a fatalidade do ocorrido, as coincidências históricas, etc.. Até que a mídia abandone de vez a notícia e que a dor e a indignação permaneçam apenas com a família da vítima. O certo é que em breve seremos afogados por  nova tragédia pautada nas redações. Afinal, a "sociedade do espetáculo" vive disso. É assim que tem sido dia após dia.
Pensamos muito pouco sobre as causas e dimensionamos exageradamente as consequências de fatos como este.  Situações semelhantes se diluem no cotidiano e a verdade é  que o machismo mata. Seja na idade adulta, seja na juventude ou mesmo na infância. Todo mundo sabe disso. Todavia, nem todo ato de violência contra a mulher vira notícia. Nem todo crime provoca comoção popular. Cinicamente o machismo tem trânsito livre no discurso dos mesmos "formadores de opinião" que repercutem esse tipo de notícia. Da mesma forma que a homofobia e o racismo. Preconceitos que também agridem o cotidiano de milhões de pessoas e produzem milhares de mortes. Tudo silenciado pela fome insaciável de audiência.
Em algumas situações a intolerância é apenas um crime  travestido de radicalismo. No caso da adolescente assassinada é inútil essa tentativa  das “autoridades competentes”  reparar o que não tem mais conserto. Uma menina foi assassinada dentro da sala de aula. Ponto. O resto é com a Justiça. Agora devemos ter atenção para com esta força estranha que leva as pessoas para a violência. Geralmente motivadas pela banalização da vida. A tristeza pela morte da menina não pode afetar uma reflexão madura. O fato é que a sociedade brasileira vive momentos de espantosa intolerância pessoal, política e social.

A vingança e qualquer raciocínio emocionado não ajudam em nada. Na verdade, atrapalham.  Precisamos de lucidez para compreender que fatos como este continuam alimentando audiências e popularizando a sangria social que atravessa os séculos. Isso acaba motivando os oportunistas patológicos, os pulhas carimbados que não perdem a oportunidade de até mesmo partidarizar a tragédia. Existem formadores de opinião movidos por sentimentos macabros, sem dúvida. Este caso, por exemplo, extrapolou a página policial revelando até mesmo  o obscurantismo intelectual de alguns. É triste pensar que certos profissionais da informação se alimentam de tragédias como esta. Mas, essas questões devem alimentar o debate antes  da próxima tragédia.



(Esse texto será publicado amanhã no Jornal A União, na minha coluna semanal. Todas as sextas um novo texto que sempre é armazenado aqui no Blog A Barca)

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