quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Cultura da Casa Grande à Senzala

Por Lau Siqueira

Não é fácil trabalhar com cultura em lugar nenhum do planeta. Principalmente fora das grandes engrenagens comerciais, onde a cultura vira um produto descartável e onde raramente a arte se faz presente. Não é fácil trabalhar com cultura em Cachoeira dos Índios, no Alto Sertão da Paraíba e nem em Herval do Sul, cidadezinha perdida no extremo pampa do Rio Grande do Sul. Os desafios são idênticos e as demandas se aproximam. No entanto foi nessas dificuldades e sem qualquer resquício de política pública rondando pelos corredores palacianos que um estado pobre como a Paraíba produziu suas maiores referências culturais. Nomes que cruzaram muitas fronteiras.

Não são poucos os paraibanos de projeção nas artes e na intelectualidade brasileira. Podemos citar os grandes mestres como Augusto dos Anjos, Pedro Américo, Maestro José Siqueira, José Lins do Rego, Sivuca, Jackson do Pandeiro, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Cassiano, Herbert Viana, Chico Cesar e muitos outros que se destacaram na própria batalha e mostraram-se às terras Tabajaras e Potiguaras entre os mais talentosos do País. Ainda hoje a Paraíba conta com artistas excepcionais. A terra de Linduarte Noronha e Vladmir Carvalho é mesmo coisa de cinema. No entanto a maioria dos grandes mestres vivem sob o manto do silêncio e da invisibilidade.

Entendo que o grande desafio na esfera estadual das políticas públicas é estabelecer os elos necessários para que o Sistema Estadual de Cultura e os sistemas municipais, passem a dialogar com o Sistema Nacional de Cultura de forma a efetivar ações de políticas públicas que garantam o fomento à produção de todas as áreas. Está posto o desafio, no entanto sabemos que não é assim tão fácil. Em qualquer esfera, no geral, os gestores administram muito mais as dificuldades que as possibilidades. Dizem que o “povo precisa de cultura”, mas esquecem de pedir para que a televisão seja desligada.


Alguns artistas, por sua vez, não conseguem absorver a realidade e a necessidade de confrontar o mercado e não submeter-se às suas regras. Uma política cultural não pode ser medida pela quantidade de ações e muito menos pelo percentual de diferença entre os cachês de um artista “comercialmente aceito” com os cachês de um Mestre de Reisado. Porque são distintas as bases de cálculo. Se existisse uma clareza por parte dos movimentos culturais sobre as possibilidades do todo, poderíamos caminhar diferente. Mas, o que se constata atualmente é uma corrida às facilidades da administração pública, na base do eterno “farinha pouca meu pirão primeiro.” Algo que pode até contentar alguns, mas não assegura sustentabilidade nem aqui nem na China.

Texto para o Jornal A União do próxima sexta.

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