Por Lau Siqueira
Não é fácil trabalhar
com cultura em lugar nenhum do planeta. Principalmente fora das grandes
engrenagens comerciais, onde a cultura vira um produto descartável e onde
raramente a arte se faz presente. Não é fácil trabalhar com cultura em
Cachoeira dos Índios, no Alto Sertão da Paraíba e nem em Herval do Sul,
cidadezinha perdida no extremo pampa do Rio Grande do Sul. Os desafios são
idênticos e as demandas se aproximam. No entanto foi nessas dificuldades e sem
qualquer resquício de política pública rondando pelos corredores palacianos que
um estado pobre como a Paraíba produziu suas maiores referências culturais.
Nomes que cruzaram muitas fronteiras.
Não são poucos os
paraibanos de projeção nas artes e na intelectualidade brasileira. Podemos
citar os grandes mestres como Augusto dos Anjos, Pedro Américo, Maestro José
Siqueira, José Lins do Rego, Sivuca, Jackson do Pandeiro, Zé Ramalho, Elba Ramalho,
Cassiano, Herbert Viana, Chico Cesar e muitos outros que se destacaram na
própria batalha e mostraram-se às terras Tabajaras e Potiguaras entre os mais
talentosos do País. Ainda hoje a Paraíba conta com artistas excepcionais. A
terra de Linduarte Noronha e Vladmir Carvalho é mesmo coisa de cinema. No
entanto a maioria dos grandes mestres vivem sob o manto do silêncio e da
invisibilidade.
Entendo que o grande
desafio na esfera estadual das políticas públicas é estabelecer os elos
necessários para que o Sistema Estadual de Cultura e os sistemas municipais,
passem a dialogar com o Sistema Nacional de Cultura de forma a efetivar ações
de políticas públicas que garantam o fomento à produção de todas as áreas. Está
posto o desafio, no entanto sabemos que não é assim tão fácil. Em qualquer
esfera, no geral, os gestores administram muito mais as dificuldades que as
possibilidades. Dizem que o “povo precisa de cultura”, mas esquecem de pedir
para que a televisão seja desligada.
Alguns artistas, por
sua vez, não conseguem absorver a realidade e a necessidade de confrontar o
mercado e não submeter-se às suas regras. Uma política cultural não pode ser
medida pela quantidade de ações e muito menos pelo percentual de diferença
entre os cachês de um artista “comercialmente aceito” com os cachês de um
Mestre de Reisado. Porque são distintas as bases de cálculo. Se existisse uma
clareza por parte dos movimentos culturais sobre as possibilidades do todo, poderíamos
caminhar diferente. Mas, o que se constata atualmente é uma corrida às
facilidades da administração pública, na base do eterno “farinha pouca meu
pirão primeiro.” Algo que pode até contentar alguns, mas não assegura
sustentabilidade nem aqui nem na China.
Texto para o Jornal A União do próxima sexta.
Texto para o Jornal A União do próxima sexta.
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