terça-feira, 30 de dezembro de 2014

¿Qué pasa, Vargas Llosa? ( I )

Por Lau Siqueira



Esperar um voo em qualquer aeroporto não é tarefa divertida. As vitrines são as mesmas. As poucas livrarias exibem biografias e autoajuda. O ambiente é frio. Semana passada, em Guarulhos, entretanto, estanquei meu olhar num livro de Mario Vargas Lhosa. Admiro o peruano, autor de “A guerra do fim do mundo”. Então resolvi comprar “A civilização do espetáculo – Uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura”. O tema não é novidade. Edgar Morin e, muito especialmente Guy Debord já abordaram o assunto. Um tema, aliás, bem instigante e capaz de suscitar muitas reflexões. Os males da espetacularização midiática são por demais conhecidos. A notícia de fácil consumo substituiu o jornalismo crítico, reflexito, investigativo e isso tem um efeito devastador na cultura. É mais um fruto da globalização.

Uma frase na quarta capa do livro, todavia, é uma provocação: “A cultura, no sentido tradicionalmente dado a este vocábulo, está prestes a desaparecer”. Ele se refere à banalização das artes e da literatura. Algo que concordo discordando. O que ocorreu foi a retirada dos intelectuais e dos artistas das pautas de visibilidade. Os cadernos de cultura, majoritariamente, destacam a vulgaridade dos programas televisivos e a banalidade das colunas sociais. Mas, desprezar a qualidade da arte e da intelectualidade contemporânea é puro despeito. A chamada “alta cultura”, modismo dos salões aristocráticos, é que está morta. É um erro crasso afirmar que a cultura está prestes a desaparecer. Estamos sendo engolidos antropologicamente pela midialização, pela cultura do entretenimento. Todavia a arte é resistência em qualquer tempo. Não vamos esquecer que Van Gogh teve sua obra desprezada e ele não foi o único.

Desacreditar pensadores e artistas contemporâneos significa pensar fora do tempo da arte. A elevação da cultura não é propriedade de uma elite erudita ou de uma época determinada. É uma conexão da raça humana. Transborda junto com a história e nela se desloca. Em todas as épocas tivemos altos e baixos. Referendar a espetacularização como recorte do fim da história é frustração pessoal ou delírio neoliberal. Jamais uma realidade que não possa ser contestada e transformada. Depois de todas as vanguardas artísticas do final do século XIX e início do século XX, a história da arte e do pensamento não se afirmam mais pela novidade, mas pela densidade. A ideia de espetaculização em Vargas Lhosa me parece equivocada, especialmente quando compara Verdi com Rolling Stones. Como se o fato de existir o rock impedisse a evolução da música clássica. Entretanto, o livro merece outras abordagens. Faremos isso nas próximas colunas.

  Publicado no Jornal A União, na última sexta.

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